Críticas e indicações,  Filmes

Quatro faroestes com personagens mulheres que fazem a diferença

O faroeste ou western tem lugar especial na historiografia do cinema como um dos principais produtos de Hollywood, sendo considerado como parte importante da mitologia norte-americana. É um dos gêneros mais facilmente reconhecíveis por seus elementos característicos dispostos em histórias e representações de protagonistas homens. Tendo surgido no começo do século XX, desenvolveu ao longo dos anos um forte imaginário atrelado a paisagens áridas, caubóis austeros, pistoleiros, xerifes, os fora-da-lei, heróis destemidos e bandidos “casca-grossa” em batalhas de bem e mal, pessoais ou grandiosas – incluindo aí questões problemáticas como a vilanização de grupos indígenas, por exemplo. 

O foco das narrativas sempre esteve nas relações de rivalidade ou parceria entre homens, cabendo às mulheres papéis secundários e limitados, como o de donzela a ser salva, par romântico e acompanhante nos saloons, todos variantes de uma posição de subordinação. Porém, há westerns, entre clássicos e contemporâneos, que apresentam personagens femininas subvertendo esse lugar de coadjuvante sem agência. Então, inspiradas pelas mulheres de luta e resistência de Bacurau (2019), nosso faroeste sertanejo, fizemos uma lista de westerns em que as mulheres estão longe de serem apenas mocinhas indefesas. Você pode conferir cada um deles no catálogo de streaming do Telecine.

Johnny Guitar (1954), de Nicholas Ray

Joan Crawford em Johnny Guitar

Apesar do título que engana, em Johnny Guitar são as mulheres e seus conflitos os destaques deste clássico por estas guiarem a narrativa e serem superiores aos personagens masculinos. Ou seja, o protagonismo é todo delas, havendo aqui uma total desconstrução do faroeste como narrativa sobre homens. Joan Crawford interpreta com muita intensidade o papel da manda-chuva Vienna, mulher durona, dona de um saloon no Arizona ameaçado constantemente por interessados na propriedade. Ela rivaliza com a rígida e moralista fazendeira Emma (Mercedes McCambridge), que a culpa pela morte do irmão e tem ciúmes do seu envolvimento com o principal bandido do vilarejo. A cidade vive em pé de guerra por conta dessa rivalidade. Além de estar a frente de seu tempo, o filme de Nicholas Ray – que um ano depois lançaria Juventude Transviada (1955), com James Dean – chama a atenção também pela direção de arte, pelos figurinos e pelo visual brilhante de cores fortes, resultado do sistema Trucolor. 

Assista aqui.

Era Uma Vez no Oeste (1968), de Sergio Leone

Claudia Cardinale em Era Uma Vez no Oeste (1968)

Era Uma Vez no Oeste é considerado por muitos o melhor filme de Sergio Leone, principal diretor do chamado faroeste espaguete, de produções italianas das décadas de 1960 a 1970. Na história, que aborda simbolicamente a chegada do novo e do progresso ao Velho Oeste, há quatro personagens principais, entre eles a belíssima Claudia Cardinale como Jill McBain. Ex-prostituta que se casou com um homem de propriedades, ela acaba enfrentando muitas dificuldades para assumir e manter as terras do marido assassinado. Apesar de não ser tão desenvolvida como merecia, de ainda ser marcada pelas ameaças de violência sexual e de perder espaço para os dois personagens masculinos rivais, Jill já é um avanço para a representação feminina no faroeste, por ser uma mulher no centro da narrativa e que se recusa a ser intimidada. Grande destaque também para a interpretação certeira, cheia de nuances, de Cardinale.

Assista aqui.

Dívida de Honra (2014), de Tommy Lee Jones

Hillary Swank em Dívida de Honra

Baseado no romance de Glendon Swarthout, produzido por Luc Besson, dirigido por Tommy Lee Jones e com grandes nomes no elenco, como Hillary Swank, Meryl Streep, Miranda Otto, entre outras e outros, Dívida de Honra conta a história de Mary Bee Cuddy (Swank), fazendeira inteligente, corajosa e solitária que precisa levar três mulheres em sofrimento mental ligado à maternidade para serem cuidadas num abrigo em outra região. Ela enfrenta o perigoso deserto de Iowa e no caminho salva a vida do criminoso Georges Briggs (Jones). Em troca, pede a ele para que lhe ajude na difícil missão de transportar as mulheres. Mulher protagonista, que guia a ação fora dos limites de casa, salvando um homem do perigo e ajudando a vida de outras mulheres: combo de quebra de padrões do faroeste clássico muito bem-vindo para atualizar o gênero. Por suas qualidades, foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes. 

Assista aqui.

Amaldiçoada (2016), de Martin Koolhoven

Dakota Fanning em Amaldiçoada

Numa mistura de faroeste e suspense brutal, estruturado em capítulos não lineares, Amaldiçoada traz Dakota Fanning como Liz, uma mulher muda de muita garra, nos Estados Unidos do século XIX, que tenta fugir do seu passado mas é perseguida por um fanático religioso (Guy Pearce) que acredita que ela seja culpada por um crime e deve ser punida. Diante disso, Liz é uma verdadeira sobrevivente, lutando por uma vida melhor para ela e sua filha. O longa é dirigido pelo cineasta e roteirista holandês Martin Koolhoven e por meio da jornada de sua protagonista, discute violência, misoginia e religião.

Assista aqui.

Lembrando que esses e outros grandes sucessos interpretados por mulheres estão disponíveis no Telecine direto pela internet.

Esse conteúdo foi produzido pelo Feito por Elas, de maneira patrocinada, em parceria com o Telecine.  
Compartilhe
Share

Projeto para discutir, criticar e divulgar os trabalhos de mulheres no cinema.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *