
Magic Farm (2025)
Já falei o quanto me fascina ver o vazio millennial representado no cinema. Não porque me sinto em posição de superioridade, mas pelo espelho que essas histórias colocam. É bom esbarrar na própria mediocridade, né? Esse foi um tema que comentei na crítica de On a String, filme de Isabel Hagen que passou no Festival de Tribeca. Agora, com o lançamento recente de Magic Farm, da diretora e roteirista argentina Amalia Ulman, esse tema surge novamente, mas em uma lente mais absurda e colorida. A exposição dos millennials (liderados por uma it girl da geração Z que é vivida pela pessoa que melhor carrega este título, Chloe Sevigny) estadunidenses que não sabem nada de nada rende situações irresistíveis para a comédia, e Ulman aproveita essa oportunidade aqui.
Em Magic Farm, a realizadora satiriza uma geração que acha que vê o mundo, mas que, na verdade, não presta atenção em nada. E nada melhor que usar de um grupo descoladinho que viaja até a Argentina para fazer um documentário sobre um músico. Sem entender exatamente o porquê de fazer aquilo, é lógico que a equipe vai errar tudo o que é possível errar e não vai conseguir exatamente o que procura. É como Mick Jagger diz, né? Nem sempre você consegue o que quer, mas, se tentar um pouco, talvez você consiga o que precisa.
O desinteresse crônico que faz esse grupo descer até a América do Sul sem ao menos entender o idioma do país que vai visitar (a única pessoa da equipe que fala espanhol é argentina) é escancarado em diálogos fúteis e no horror que é saber que essa equipe tem como função documentar o mundo. Minto. Documentar, não. Viralizar o mundo.
Ulman tira um grande sarro dos estadunidenses que acreditam, de fato, que têm interesse em outras culturas, mas que são incapazes de saber que a América é um continente e não o país deles. Ao mesmo tempo, o filme reconhece que ter que observar e sentir é o oposto do que o capitalismo impõe, com prazos, pressões econômicas e o pensamento sempre no resultado, que atropela o processo.
A lisergia dos nossos tempos é exposta pela falta de noção da equipe do documentário e também pela beleza ao redor que eles perdem em aproveitar. Embaladas por uma trilha que mistura os ritmos locais com o eletrônico que serve como uma resposta debochada ao malabarismo ético que o grupo exercita ao longo da narrativa, as paisagens rurais do vilarejo são coloridas e escondem um mundo de histórias interessantes a olhos mais atentos que os daqueles millennials vazios.



