Cinema

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    Pobres Criaturas, sexualidade e autonomia

    Eu não ia escrever sobre Pobres Criaturas (Poor Things, 2023), filme de Yorgos Lanthimos sobre o qual tenho visto recair diversas críticas, incluindo o de ser um exercício de olhar masculino (male gaze) e de ser uma obra pornográfica. Mas acabei resolvendo fazê-lo. (“Lá vem Isabel de novo defender sexo no cinema”). No filme, Emma Stone interpreta Bella Baxter, uma espécie de monstro de Frankenstein em versão feminina: uma jovem criada por um cientista a quem chama de Deus (God, apelido de Godwin, seu nome), interpretado por William Dafoe. E ela, que se desenvolve física e intelectualmente diante dos olhos de quem está assistindo, precisa aprender a lidar com os limites da…

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    Laura (1944)

    Os muitos planos de Laura que colocam sua pintura ao fundo, sempre enquadrada e estática enquanto outros personagens se movem pela sala, revelam a própria essência do filme de Otto Preminger, a idealização pela imagem das mulheres no cinema. Por grande parte da duração do longa, a pergunta que se levanta ao espectador e a todos os envolvidos na trama é “quem matou Laura?”, já que partimos praticamente do mesmo ponto de vista do detetive (Dana Andrews), não assistimos ao crime, porém também é privado de nós qualquer contato com esse assassinato, o que por sí só já se torna uma distração. É certo que Laura Hunt (Gene Tierney) está…

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    Os 39 degraus

    Esses dias a newsletter da Aline Valek veio com o título O tempo andou mexendo com a gente. Ela escreveu uma série de reflexões sobre as diferenças entre gerações, agora tão na moda de serem apontadas que cada uma ganha até mesmo um nome diferente. E também sobre a passagem do tempo e envelhecer. Sua carta veio em boa hora, encaixou direitinho com coisas que tenho pensando. Uma das que ela comenta é como, de fato, cada geração está sempre condenando a anterior. Ela traz uma citação que comenta a decepção com os jovens: “Os jovens indomáveis de hoje não estão perdidos. Para esta geração falta o ar eloquente de perda que fez tantas façanhas…

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    Madame Teia (2024)

    Em 1973, Contance (Kerry Bishé), uma cientista, se embrenha na Amazônia peruana em busca de uma aranha cuja picada tem propriedades curativas. Quando ela finalmente consegue encontrar um espécime, um de seus assistentes mata todos os demais e lhe desfere um tiro, roubando o animal para si. Ela está com uma gestação avançada e é resgatada por um povo lendário que tem o poder de escalar árvores. Eles a levam para uma caverna e soltam uma aranha que a pica. O veneno da aranha não evita sua morte, mas o parto induzido permite que sua filha sobreviva. Todos esses acontecimentos são apresentados em flashback logo no começo do filme. Pula…

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    Entre dois amores

    Entre 2013 e 2014 eu queria voltar para a academia e tinha um pouco de medo de não dar conta do ritmo. Para “treinar” os estudos, eu me inscrevi em vários cursos que era disponibilizados de graça na plataforma Coursera. Era apenas uma proposta maravilhosa, daquela época em que rolava uma utopia de que a internet democratizaria o conhecimento (e não que a gente seria sufocado por algoritmos tentando nos vender coisas, mas isso é tema para outro momento). Esses cursos me marcaram demais: até hoje lembro das aulas, da didática, do esforço conjunto para o modo online de aula funcionar (anos antes da pandemia) e da sensação de que eu poderia fazer as disciplinas mais…

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    Duas catadoras

    Texto publicado originalmente na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Esses dias eu li A Teoria da Bolsa da Ficção, um ensaio da Ursula Le Guin que saiu no Brasil pela N-1 Edições, traduzido por Luciana Chieregati. Com enxutas 8 páginas, publicado originalmente em 1986 (depois de algumas das principais obras da autora, diga-se de passagem), é impressionante quantas ideias interessantes ele abarca. Ursula (ou Ursulinha, como chamamos ela na intimidade do Grupo de Leitura Feito por Elas), para quem não conhece, é uma escritora de ficção científica que começou a publicar no final da década de 1950, com o primeiro romance saindo em 1966. Elas permaneceu ativa até seu…

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    Melhores filmes de 2023

    Todos os anos elabora essa lista de filmes que mais gostei e sempre sofro para conseguir fechar. Ela e muito pessoal e provavelmente semana que vem já seria outra. Até 2021 eu só levava em conta filmes lançados no Brasil, mas desde o ano passado, quando comecei a votar no Globo de Ouro, passei a incluir também qualquer filme que seja lançamento e que eu tenha visto ao longo do ano. Esse ano eu vi ainda menos filmes que no ano passado. Eu sumi pro mundo entre janeiro e julho, quando entreguei a tese pra branca, e de agosto a outubro trabalhei na versão corrigida depois da defesa. Assim, acabei…

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    20 Melhores filmes vistos pela primeira vez em 2023

    Todo ano eu faço essa listinha, que abarca alguns dos filmes que não são lançamento que mais gostei de conhecer. A descoberta de novos filmes é uma constante na busca por cinemas interessantes, mas esse ano sinto que não explorei tanta coisa nova. Foram muitas revisões para acabar a tese e, nas horas vagas, optei muito por filmes de atrizes que tenho interesse (esse foi um ano povoado especialmente por Bette Davis) e não necessariamente me atentando às pessoas dirigindo. Como sempre, para facilitar, em caso de haver mais de um filme com a mesma direção que pudesse figurar entre meus preferidos, incluí apenas um (senão seriam 3 Minnellis). A…

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    [47ª Mostra de São Paulo] Entrevista Mania Akbari

    Esta entrevista faz parte da cobertura da 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 19 de outubro e 1 de novembro. Um dentre os mais de 300 filmes selecionados para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Como Você Se Atreve a Desejar Algo Tão Terrível (How Dare You Have Such a Rubbish Wish, 2022) da cineasta e ativista Mania Akbari não só foi exibido nas salas de cinema como ficou disponível para streaming na plataforma Spcine Play. A obra é um vídeo-ensaio que utiliza cenas de filmes iranianos para, por meio de poemas e narrações da própria narradora, abordar o olhar masculino sobre mulheres…

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    [47ª Mostra de São Paulo] Entrevista Hanna Västinsalo

    Esta entrevista faz parte da cobertura da 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 19 de outubro e 1 de novembro. Nesse podcast, parte de nossa cobertura da 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, entrevistamos a cineasta finlandesa Hanna Västinsalo, em uma conversa sobre seu filme Palimpsesto (Palimpsest, 2022). Você pode conferir a crítica completa do filme aqui. O programa é apresentado por Isabel Wittmann. Confira a transcrição da entrevista abaixo: Isabel: Em primeiro lugar, gostaria de dizer que realmente amei o seu filme. Sou uma amante de ficção científica e assisti à sua palestra no Tedx, que foi realmente interessante. Especialmente quando você…