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    Tendaberry (2025)

    Em imagens que misturam um olhar documental, pela urgência do registro do instante verdadeiro nas ruas e praias estadunidenses, e a ânsia de afinar as bordas da trama de ficção, pelo realismo social, Haley Elizabeth Anderson faz sua estreia na direção de longas com Tendaberry. Na agitação do Brooklyn pós-pandêmico, entre as ruas do bairro e o parque em Coney Island, entre filmagens antigas com a narração reflexiva da protagonista e a câmera que a acompanha no momento presente, o filme encontra a imagem de Dakota (Kota Johan) apaixonadamente próxima de Yuri (Yuri Pleskun), em um fluxo que demonstra a instabilidade de suas vidas, da juventude e do período. Com…

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    [30º É Tudo Verdade] Hora do Recreio

    Este texto faz parte da cobertura do 30º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, que ocorre entre 03 e 13 de abril. “Vocês acham que isso aqui é realidade ou ficção?”, pergunta a professora depois de uma interação bem intensa com um grupo de alunos adolescentes. Até esse momento, em que a pergunta revela também a participação da equipe de filmagens em cena, a pessoa espectadora não tinha motivos para fazer o mesmo questionamento. Abrir o plano para revelar o aparato cinematográfico, bem como a diretora Lúcia Murat, não é exatamente um recurso que atravessa a linha entre o documentário e a obra ficcional, mas é inserido de forma…

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    [30º É Tudo Verdade] Ritas

    Este texto faz parte da cobertura do 30º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, que ocorre entre 03 e 13 de abril. Na noite de abertura do festival É Tudo Verdade, em São Paulo, a Cinemateca Brasileira estava lotada de pessoas esperando para ver Ritas, longa de Oswaldo Santana e codirigido por Karen Harley. Como uma ironia do destino, a chuva começou a cair na cidade da garoa no mesmíssimo segundo em que a tela externa, ao ar livre, dava seus primeiros sinais do filme. O público, que esperava há quase duas horas para a sessão iniciar, se movimentou com as cadeiras para os cantos cobertos. Algumas pessoas se…

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    O Macaco (2025)

    Em letras chamativas, o cartaz nacional de O Macaco (The Monkey) destaca os nomes de Osgood Perkins (diretor e roteirista), Stephen King (autor original) e James Wan (produtor), um trio que costuma remeter ao gênero do horror. A publicidade brasileira do filme faz coro, indica que é um “terror repleto de humor macabro e mortes surreais”, frase que, embora acertada em algumas partes, também foi o fermento para a decepção de muitas pessoas. Se a onda de terror elevado, horror psicológico, entre outros termos utilizados, quase colocou o gênero como algo menos digno, dando a algumas obras o rótulo de suspense, drama ou qualquer outro, como se o terror não…

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    Homens de Barro (2024)

    Com nomes incomuns e uma narração em off descrevendo suas histórias, dois meninos, Pássaro e Marciano, vivem vidas normais, até certo ponto, de crianças em uma cidade muito pequena, com mais natureza do que perspectivas. No entanto, a história de Homens de Barro não pretende de forma alguma se distanciar ou esconder sua referência shakesperiana, sublinhando uma proximidade com a literatura e com a tragédia. Assim, a voz que descobre-se mais tarde ser de Ângelo (João Pedro Prates), o irmão que era pouco relevante na introdução do longa, narra como sua família, os Miranda, travam uma rivalidade de anos com os Tamai, poeticamente situados lado a lado, vizinhos de casa…

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    Parque de Diversões (2024)

    É noite na cidade, pessoas caminham de diversas direções até um mesmo ponto central. A escuridão urbana contorna os rostos, ninguém diz nada, ninguém tem nome, nem história, mas seus rostos são bem retratados, em foco. Quando a primeira personagem chega aos portões e os rompe, abre-se um novo mundo, resgatando um lado mais animalesco do instinto sexual, até por isso a primeira pessoa a desbravar o parque o faz justamente subindo em uma árvore. Parque de Diversões inicia então sua observação voyeur, convidando a pessoa espectadora a participar de um jogo entre diferentes experiências, mas com seu ritmo bem estabelecido entre as preliminares e o ápice. Os personagens praticamente…

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    [48ª Mostra de São Paulo] No Other Land

    Este texto faz parte da cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro. Usando o poder das imagens para registrar abusos militares contra palestinos, em um recorte específico, o coletivo de cineastas e jornalistas impõe suas câmeras como armas de defesa e ataque O que os créditos e a sinopse dizem sobre No Other Land é que há uma junção de israelenses e palestinos em sua direção, o que não quer dizer de forma alguma que o filme propõe um contraponto ou qualquer diálogo sequer sobre diferentes pontos de vista. Embora Rachel Szor e Yuval Abraham sejam de Israel e…

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    [48ª Mostra de São Paulo] Malu

    Este texto faz parte da cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro. Pedro Freire faz excelente análise dos traumas geracionais, íntimos e de um país, retratado a partir de uma personagem complexa, encantadora e terrível A cena que introduz o longa é certeira na apresentação de Malu (Yara de Novaes), uma mulher de riso largo e muitos sons. O retrato livremente inspirado na mãe do diretor, Pedro Freire, não é somente um estudo de personagem, mas um filme que usa essa personalidade complexa de sua protagonista para também perceber uma transição entre gerações no Brasil. A atriz fala palavrões…

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    [48ª Mostra de São Paulo] Manas

    Este texto faz parte da cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro. Sutil e responsável em sua abordagem da violência, Mariana Brennand acompanha com cuidado potências femininas que elevam sua narrativa de denúncia Habituada ao cinema documental, Mariana Brennand encontrou na ficção uma maneira de denunciar violências sem expor suas vítimas e, com essa mesma sensibilidade que é base de sua feitura, traz muita sutileza e responsabilidade para abordar a temática central. Nos anos 70, Iracema – Uma Transa Amazônica colocava uma protagonista muito jovem em Belém, a retratando entre o documentário e a ficção dentro das maiores problemáticas…

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    Pasárgada (2024)

    Dira Paes estreia na direção explorando a natureza como chave da transformação de uma protagonista controversa, mas ficam claras suas dificuldades para estruturar o longa. É comum o movimento de pessoas que atuam e decidem desbravar o lugar da direção sem muita experiência anterior do outro lado das câmeras, com todo tipo de resultado, dos que surpreendem, os medianos e os que decepcionam. Dira Paes não somente estreia como diretora, mas acumula funções na feitura de seu primeiro filme, algo que é muito visto no cinema independente feito por mulheres, em que obras são dirigidas, protagonizadas, escritas, produzidas e algumas vezes até montadas por uma mesma cineasta. Em Pasárgada, Dira…