Entrevistas

Entrevista | Grace Van Patten e o desafio de dar nova voz a Amanda Knox

Não sou exatamente fã de true crime. Talvez por ter feito ronda policial durante alguns anos, no meu tempo de redação, ou talvez por ter sido uma criança traumatizada pelo Linha Direta, meu interesse por histórias de crimes reais é bastante pontual. Para ser sincera, quando decido investir tempo em algum conteúdo desse filão, é quase sempre pela maneira como ele aborda a cobertura midiática — ou por alguma conexão pessoal com o caso retratado, seja geográfica (como em Bandidos na TV, da Netflix), seja do imaginário ou profissional. Nos tempos do podcast Feito por Elas, por exemplo, participei de um episódio sobre a docussérie Pacto Brutal, que fala do assassinato da atriz Daniella Perez. Foi um dos poucos exemplares do gênero que assisti, movida principalmente pelo impacto daquele caso e pela forma como ele marcou a memória coletiva do país (incluindo a minha, como conto no programa).

Nesse interesse pontual por casos de grande repercussão midiática, cheguei à minissérie A História Distorcida de Amanda Knox (The Twisted Tale of Amanda Knox, 2025), disponível no Disney+. A produção parte do ponto de vista de Amanda Knox, a jovem estadunidense que foi condenada — e depois absolvida — pela morte de Meredith Kercher, uma de suas colegas de quarto. O assassinato ocorreu na Itália, em 2007, quando as duas faziam intercâmbio. O crime levou Amanda e seu namorado aos tribunais em um caso que se arrastou por anos e atraiu a atenção da mídia de todo o mundo, especialmente a italiana e a dos Estados Unidos.

Absolvida em 2015 (porém condenada por difamação contra Patrick Lumumba, seu chefe, a quem acusou de ter cometido o crime), Amanda tem se dedicado nos últimos anos a contar sua versão da história. O ápice desse esforço chega com a série A História Distorcida…, produzida por ela e por Monica Lewinsky, outra mulher que tem buscado o controle da própria narrativa em detrimento do que a mídia falou a seu respeito por anos.

A atriz Grace Van Patten encabeça esta nova incursão sobre o caso. Em oito episódios, ela vive a protagonista em duas linhas temporais, no presente e na época do crime. A atenção da mídia divide espaço com tramas centradas na relação de Amanda com a família, na dificuldade de Amanda com o idioma italiano (e como isso afetou sua defesa nos diferentes julgamentos ao longo dos anos) e no processo de fazer as pazes com o passado. Tive a oportunidade de falar com Grace recentemente em uma junket sobre a série. Com o tempo curto (apenas 4 minutos), não consegui aprofundar muito os temas que gostaria (não deu pra perguntar sobre a forma como a série honra Meredith, por exemplo), mas é do jogo.

O vídeo está disponível no canal do Feito por Elas no Youtube. Coloco aqui, também, uma descrição da breve conversa:

Camila Henriques: Oi, Grace, que bom falar com você. Na série, você interpreta uma pessoa que lutou por muito tempo pra contar a própria história.Você teve bastante contato com a Amanda. O que te surpreendeu sobre ela e que foi algo que você achou importante colocar na sua composição?

Grace Van Patten: Muita coisa. Eu aprendi muito com ela, e o que mais me surpreendeu nesse contato que tivemos foi ver como ela encara a vida. Eu imaginava que alguém que passou pelo que ela passou seria uma pessoa mais ressentida e desconfiada, mas ela é uma pessoa esperançosa e com capacidade de perdoar e de viver sem ressentimento, sem deixar de confiar nas pessoas. Isso foi uma surpresa pra mim e um aspecto bem inspirador.

Camila: A série mostra o impacto emocional que o caso teve na família dela. A sua irmã na vida real interpreta sua irmã na série, o que eu achei curioso. Como vocês e os outros atores criaram essa dinâmica familiar?

Grace: É, mesmo que nenhum de nós tenha vivido algo parecido com essa história, todos temos famílias e essas relações são muito importantes para todos nós. Eu conseguia me identificar com a saudade da família, com esse sentimento de precisar deles em um momento difícil. É algo que que foi nosso ponto de conexão.

Camila: Vocês filmaram na Itália, e eu li que você teve apenas dois meses pra aprender o idioma. É verdade? 

Grace: Sim, sim.

Camila: Isso é impressionante. Eu estou falando aqui em uma segunda língua, então sei da dificuldade que é, e, no seu caso, atuar em cenas bem difíceis falando em italiano… Como foi esse processo e o quão importante era pra você atuar falando o idioma?

Grace: Era algo muito importante pra mim, porque era algo integral para a história da Amanda, desse sentimento de isolamento por não saber direito o idioma e isso ser um empecilho na defesa dela. E a dedicação dela para aprender a falar italiano pra poder se defender na Corte é um aspecto muito importante da história. Eu queria aprender o máximo que conseguisse, pra entender de verdade o que eu estava dizendo e projetar emoção nas falas.Eu comecei a estudar uns dois meses antes das filmagens, junto a uma preparadora de sotaque, a Daniela, que foi incrível e me ajudou a entender o que eu estava dizendo em todas as minha falas, algo além do meu aprendizado do italiano de iniciante. E, como filmamos nos dois primeiros meses em Roma, eu tentava falar com o máximo de pessoas que eu podia e muitos membros da equipe técnica da série lá eram italianos, então, no fim, foi um processo de imersão no idioma.

Crítica de cinema, membra da Abraccine, amazonense, 30+, ama novela mexicana

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