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Meu Nome é Maria (Maria, 2024)

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Meu Nome é Maria, de Jessica Palud, é um recorte da vida e carreira de Maria Schneider (aqui interpretada por Anamaria Vartolomei), atriz que protagonizou O Último Tango em Paris (Ultimo tango a Parigi, 1972), dirigido por Bertolucci. O filme começa cerca de 3 anos antes da fatídica filmagem, pouco antes dela iniciar sua carreira como atriz, aos 16 anos. Tango, rodado quando tinha 19 anos, foi seu sexto filme, e o primeiro que protagonizou.

Ele retratou a história de dois desconhecidos que iniciam um relacionamento em um apartamento vazio na Cidade da Luz: a jovem Jeanne (vivida pela própria Maria) e um homem mais velho e recém-viúvo, interpretado por Marlon Brando (Matt Dillon). Notoriamente, ator e diretor acordaram uma cena que não estava roteirizada, em que o primeiro utiliza manteiga no ânus da garota para encenar um estupro (em uma cena não consentida que é um estupro por si só).

Maria sempre denunciou o caráter abusivo do que viveu em set e foi reiteradamente desmentida por Bertolucci, que alimentou uma fama de atriz “difícil” para ela. Da minha tese: “Em um evento em La Cinémathèque Française em 2013, Bertolucci afirma que queria ‘suas reações como menina, não como atriz’ e, perguntado se se arrependia de ter filmado a cena como foi feita, disse que ‘Não, mas me sinto culpado. Me sinto culpado, mas não arrependido. Sabe? Para fazer filmes algumas vezes, para obter algo, acho que temos que ser completamente livres'”. Ou seja, ele só admitiu que ela estava falando a verdade depois que Maria já havia morrido, em 2011. E ainda assim colocava sua arte acima do corpo e do bem estar da atriz. Tudo absolutamente sórdido.

O filme de Palud é difícil, se debruça sobre a perspectiva da atriz na turbulência que seguiu a filmagem. Ele cai na armadilha, por meio principalmente do figurino, de tentar criar a imagem do que convencionou se chamar de “vítima perfeita”. Mas ele consegue, na medida do possível, dar peso aos acontecimentos respeitando o ponto de vista da protagonista. 

O filme (visto em screener) está disponível em cartaz nos cinemas.

Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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