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[49ª Mostra de São Paulo] Broken English

Esse texto faz parte da cobertura da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 16 e 30 de outubro.


Em Broken English, a dupla Jane Pollard e Iain Forsyth parte de um experimento fictício para mostrar, por meio de narrativas conflitantes ao longo das décadas, a complexidade artística de Marianne Faithfull. Entre a conversa com o público estabelecida pela personagem interpretada por Tilda Swinton e os relatos da própria Marianne a um examinador vivido por George McKay, o filme passa por todas as definições que a artista recebeu, sobretudo nos anos 1960, para reivindicar o papel que ela merecia na música e na cultura pop desde então.

Essa busca por justiça já aparece no título, retirado da canção e do álbum que significaram a reinvenção de Marianne junto à New Wave. Ao longo do documentário, vemos uma transposição de como a artista foi descrita pela mídia, em um enfileiramento de comentários de jornalistas homens que sabiam apenas enumerar seus atributos físicos, sua juventude e, sobretudo, o relacionamento com Mick Jagger. 

Pollard e Forsyth equilibram as reações de Marianne a vídeos, áudios e fotos suas da década de 1960 (e as anedotas que cada um desses elementos rende) com uma roda formada por mulheres que discutem os rótulos que acompanharam a cantora e compositora. Os dois pesos e duas medidas são onipresentes no filme, desde a diferença de tratamento midiático que ela sempre recebeu, principalmente em momentos de maior fragilidade, até a qualidade artística de seu trabalho, sempre colocada em segundo plano. A beleza da obra de Marianne é pontuada pelas interpretações de cantoras como Courtney Love (ela, também, muitas vezes reduzida ao homem com quem se relacionou), Beth Orton e Suki Waterhouse para canções como “As Tears Go By” e “Sister Morphine”. Ao mostrar o estúdio como um lugar sagrado ao longo do filme, a dupla de diretores prepara o espectador para a preciosidade que é a última apresentação de Marianne, que faleceria pouco tempo depois. Assim como o disco e a música “Broken English” fizeram-na se redescobrir como artista, o filme de mesmo nome permite que o público conheça a obra de uma mulher que era bem mais do que a manic pixie dreamgirl pintada pela mesma mídia que debocharia de seu envelhecimento tempos depois.


Essa cobertura foi possível graças ao nosso financiamento coletivo. Agradecemos em especial a: Carlos Henrique Penteado, Gizelle Barros Costa Iida, Helga Dornelas, Henrique Barbosa, João Bosco Soares, Janice Eleotéreo, José Gabriel Faria Braga de Carvalho, José Ivan dos Santos Filho, Lorena Dourado Oliveira, Lucas Ferraroni, Marden Machado, Mariana Silveira, Nayara Lopes, Patrícia de Souza Borges, Pedro Dal Bó, Vinicius Mendes da Cunha, Waldemar Dalenogare Neto, Zelia Camila de O. Saldanha

Crítica de cinema, membra da Abraccine, amazonense, 30+, ama novela mexicana

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