[49ª Mostra de São Paulo] Dolores
Esse texto faz parte da cobertura da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 16 e 30 de outubro.
O tema do vício em jogos de azar e a destruição que eles causam nas famílias ecoa em Dolores (2025). A produção conclui a trilogia iniciada por Ausência (2007) e A Casa de Alice (2014), ambos do cineasta Chico Teixeira, falecido em 2019. O filme é dirigido pela dupla Marcelo Gomes e Maria Clara Escobar como um tributo a Teixeira, um dos roteiristas.
Em Dolores, acompanhamos quatro mulheres cujos laços são revelados com o desenrolar da trama, bem como os ressentimentos que carregam entre si. Defendida pela atriz Carla Ribas, a personagem-título tem a trajetória que conduz essas relações. Aos 65 anos, ela não se conforma com o que a vida lhe reservou. Seu sonho se reflete tanto no cintilante de suas unhas na vida real quanto no vestido de paetês que veste em suas ilusões.
Pronta para seu close-up, Dolores é uma mulher bem resolvida sexualmente, em um retrato da terceira idade que, felizmente, está virando uma constante no cinema brasileiro. A exemplo da Tereza de Denise Weinberg em O Último Azul (2025), de Gabriel Mascaro, ela quer a liberdade de sonhar. A personagem é cativante a ponto de torcermos pela sua estranha mania de ter fé na vida, até o momento em que entendemos que aquilo que ela chama de intuição, na verdade, é um disfarce para um vício na jogatina.
Pena que, quando conta as histórias das outras mulheres, o filme parece um pouco incompleto. A escolha de fugir do mesmo ângulo para a mesma história (no melhor estilo Rashomon) para seguir em ângulos diferentes como continuidade à narrativa fica truncada. Se há uma tentativa de mostrar os mesmos erros sendo cometidos de formas diferentes, não importa a geração, ela não funcionou para mim. Não faz muito sentido fragmentar a trama com o intuito de falar de cada uma daquelas mulheres se o filme não consegue dar conta de tudo o que coloca na tela.


Essa cobertura foi possível graças ao nosso financiamento coletivo. Agradecemos em especial a: Carlos Henrique Penteado, Gizelle Barros Costa Iida, Helga Dornelas, Henrique Barbosa, João Bosco Soares, Janice Eleotéreo, José Gabriel Faria Braga de Carvalho, José Ivan dos Santos Filho, Lorena Dourado Oliveira, Lucas Ferraroni, Marden Machado, Mariana Silveira, Nayara Lopes, Patrícia de Souza Borges, Pedro Dal Bó, Vinicius Mendes da Cunha, Waldemar Dalenogare Neto, Zelia Camila de O. Saldanha.


