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[49ª Mostra de São Paulo] Sugar Cane Alley


Este texto faz parte da cobertura da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 16 e 30 de outubro.


Há uma vivacidade na forma como a diretora martinicana Euzhan Palcy coloca em paralelo os elementos da natureza e a jornada de amadurecimento do protagonista de Sugar Cane Alley (Rue Cases-Nègres, 1983). Pelos olhos de uma criança, ela dá a seus personagens o direito básico de sonhar e, mais que isso, realiza desejos que são negados por uma socidade cuja segregação não mudou com o fim da escravidão. 

O filme é um coming of age que lida com racismo, colonialismo, resistência e senso de comunidade em uma comunidade rural da Martinica no início da década de 1930. Baseada no livro homônimo de Joseph Zobel, a película equilibra a ingenuidade das crianças (especialmente o protagonista, José Assan, interpretado pelo estreante Garry Cadenat) com a dureza da vida dos mais velhos, ex-escravos que trabalham em uma plantação de cana de açúcar. 

Menos de cem anos após a abolição da escravatura no país, o que mudou foi apenas o nome do “contrato”. Como um dos personagens mesmo diz, “os mestres viraram os chefes”. O pagamento por um dia de trabalho é vexatório e, nas escolas, os mais novos são desencorajados ou têm suas habilidades postas em dúvida. É o caso de José. Órfão de pai e mãe, ele é criado por uma avó que, em determinado momento do filme, se define como uma mulher de luta. Incansável, ela almeja para o garoto uma vida melhor por meio da educação. 

Nessa condução, o que se tem é um filme solar sobre a possibilidade de futuro em um lugar que está carregado de um passado maldito. José é um daqueles protagonistas adoráveis. Ao contar a história desse garotinho inteligente e cheio de energia que responde aos anseios da avó e de um país carregado pelas sequelas do colonialismo, Euzhan coloca a esperança como símbolo de resistência e como sentimento que anda lado a lado com a liberdade.


Essa cobertura foi possível graças ao nosso financiamento coletivo. Agradecemos em especial a: Carlos Henrique Penteado, Gizelle Barros Costa Iida, Helga Dornelas, Henrique Barbosa, João Bosco Soares, Janice Eleotéreo, José Gabriel Faria Braga de Carvalho, José Ivan dos Santos Filho, Lorena Dourado Oliveira, Lucas Ferraroni, Marden Machado, Mariana Silveira, Nayara Lopes, Patrícia de Souza Borges, Pedro Dal Bó, Vinicius Mendes da Cunha, Waldemar Dalenogare Neto, Zelia Camila de O. Saldanha.

Crítica de cinema, membra da Abraccine, amazonense, 30+, ama novela mexicana

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