Cinema

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    Cidade dos Sonhos (Mulholland Dr., 2001)

    Passando aqui para contar a experiência de rever Cidade dos Sonhos em tela grande, depois de mais de 20 anos da recepção juvenil desse que foi o primeiro filme de David Lynch que vi. Em 2001 eu era uma jovem universitária com tempo para maratonar a obra completa de realizadores que me interessava conhecer, me perder pelas trilhas sonoras e leituras de referência, além de ter tempo de qualidade para conversar com amigos sobre a paixão por cinema. Hoje, velha universitária e trabalhadora CLT, reencontrar com esta obra foi um alívio em diversos níveis. Primeiro porque me trouxe de volta o desejo de escrever sobre; depois porque, mesmo conhecendo o…

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    Lispectorante (2024)

    Nove anos após explodir em cores e sons em Amor, Plástico e Barulho (2015) e três depois de se debruçar sobre os limites entre humano e máquina com o provocativo Carro Rei (2021), um filme que se posiciona de maneira bastante única em um panorama do cinema brasileiro, a cineasta Renata Pinheiro retorna com mais uma proposta visual inventiva em sua carreira. Dessa vez, em Lispectorante, temos a protagonista, Glória Hartman, uma mulher que volta para Recife em um momento de virada de sua vida. Glória é artista e passa por turbulências financeiras. Ao mesmo tempo, ela terminou um relacionamento. O centro da cidade como lugar de memórias é um…

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    Homem com H (2025)

    Homem com H (2025) é a balada de um sobrevivente. A cinebiografia de Ney Matogrosso é o canto de um homem meio bicho que faz do palco um habitat para a constante provocação. O filme de Esmir Filho faz um musical sem ser musical, na medida em que costura a história do artista pela arte que ele leva ao mundo há mais de cinco décadas. A beleza da obra de Ney é o fio condutor de uma história que mergulha nos vários seres que nele moram.  A dualidade entre artista e homem é o centro narrativo do filme desde a abertura, com um Ney criança, pequeno em meio aos mistérios da…

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    Tendaberry (2025)

    Em imagens que misturam um olhar documental, pela urgência do registro do instante verdadeiro nas ruas e praias estadunidenses, e a ânsia de afinar as bordas da trama de ficção, pelo realismo social, Haley Elizabeth Anderson faz sua estreia na direção de longas com Tendaberry. Na agitação do Brooklyn pós-pandêmico, entre as ruas do bairro e o parque em Coney Island, entre filmagens antigas com a narração reflexiva da protagonista e a câmera que a acompanha no momento presente, o filme encontra a imagem de Dakota (Kota Johan) apaixonadamente próxima de Yuri (Yuri Pleskun), em um fluxo que demonstra a instabilidade de suas vidas, da juventude e do período. Com…

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    Todd Haynes e o New Queer Cinema

    Publicado originalmente em 03/04 na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui. Fiquei pensando o quanto às vezes faz falta a categoria nossa, que cinema! entre os lançamentos recentes. A sensação se intensificou porque na semana passada assisti a dois dos primeiros filmes de Todd Haynes. E que experiência incrível! O primeiro deles é o média metragem Superstar: The Karen Carpenter Story (1987) em que ele usa bonecas Barbie para contar a história da cantora. Com acidez, mas ao mesmo tempo de maneira respeitosa à sua memória, ele questiona as cobranças, as relações familiares, a pressão estética e a falta de acolhimento, questões relacionadas à anorexia…

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    Cidade dos Sonhos (Mulholland Dr., 2001)

    Cidade dos Sonhos (2001) parece se passar em um tempo não delimitado. Ainda que alguns figurinos e locações ecoem o icônico ano de 1999, a película é recheada por objetos como telefones antigos, um abajur vermelho vintage, uma lista telefônica, mapas impressos e um orelhão com moedinhas em seus últimos momentos de utilidade pública, além dilma caderneta de papel conhecida como “História do mundo em números de telefones”, cujo valor inestimável contabilizou pelo menos três corpos na mira de um assassino imbecil.  Assim como no subsequente e ainda mais complexo Império dos Sonhos (2006) – que mantém o protagonismo feminino forte com Laura Dern – e também no anterior Estrada…

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    Meu Nome é Maria (Maria, 2024)

    Publicado originalmente em 03/04 na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui. Meu Nome é Maria, de Jessica Palud, é um recorte da vida e carreira de Maria Schneider (aqui interpretada por Anamaria Vartolomei), atriz que protagonizou O Último Tango em Paris (Ultimo tango a Parigi, 1972), dirigido por Bertolucci. O filme começa cerca de 3 anos antes da fatídica filmagem, pouco antes dela iniciar sua carreira como atriz, aos 16 anos. Tango, rodado quando tinha 19 anos, foi seu sexto filme, e o primeiro que protagonizou. Ele retratou a história de dois desconhecidos que iniciam um relacionamento em um apartamento vazio na Cidade da Luz: a…

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    Holland (2025)

    Publicado originalmente em 03/04 na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui. Holland, dirigido por Mimi Cave, é a mais recente adição na filmografia de donas de casa desesperadas da Nicole Kidman. Ela começa narrando sobre o quão perfeita é a vida nessa cidade de colonização holandesa e como foi salva nesse lugar e nem parece verdade. Ficamos sem saber o que aconteceu no seu passado, porque ela simplesmente esquece de contar. Mas ela está lá, vivendo essa vida idílica, numa vizinhança perfeita, de vidas perfeitas, com um marido, o oftalmologista da cidade (Matthew Macfadyen, ou Mr. Darcy ou Tom Wambsgans, ao gosto da freguesia) e um filho e…

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    Presença (Presence, 2024)

    Publicado originalmente em 03/04 na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui. Presença é o novo suspense de Steven Soderbergh, cineasta que anunciou sua aposentadora em 2012, mas continua voltando para novos experimentos. E eu até me diverti assistindo, mesmo sendo pouco mais que isso: um experimento. A proposta é ser um filme de assombração. Uma família se muda para uma enorme e linda casa centenária. A mãe (Lucy Liu) paparica o filho (Eddy Maday), um jovem que conseguiu uma vaga em uma boa escola nessa nova vizinhança por seu desempenho na natação. A filha (Callina Liang), introspectiva, acabou de perder a melhor amiga,…

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    [30º É Tudo Verdade] Hora do Recreio

    Este texto faz parte da cobertura do 30º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, que ocorre entre 03 e 13 de abril. “Vocês acham que isso aqui é realidade ou ficção?”, pergunta a professora depois de uma interação bem intensa com um grupo de alunos adolescentes. Até esse momento, em que a pergunta revela também a participação da equipe de filmagens em cena, a pessoa espectadora não tinha motivos para fazer o mesmo questionamento. Abrir o plano para revelar o aparato cinematográfico, bem como a diretora Lúcia Murat, não é exatamente um recurso que atravessa a linha entre o documentário e a obra ficcional, mas é inserido de forma…