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Cineasta Adelia Sampaio, pioneira do cinema negro brasileiro, é homenageada com mostra retrospectiva no IMS Paulista

Em cartaz de 16 a 30 de setembro, a programação traz filmes dirigidos e produzidos pela cineasta, além de títulos que influenciaram sua filmografia. Adelia estará presente na abertura da mostra para um debate com o público.

Primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem no Brasil, Adelia Sampaio (1944) construiu uma carreira de mais de cinco décadas, abrindo caminhos numa indústria marcada por exclusões. Em homenagem ao seu legado e reiterando a sua importância na história do cinema brasileiro, o Cinema do IMS Paulista apresenta, de 16 a 30 de setembro, a Retrospectiva Adelia Sampaio: se eles apagam, a gente reescreve. Na sessão de abertura (16/9, às 19h), serão exibidos os filmes Adulto não brinca e Amor maldito, seguidos de bate-papo com Adelia, a pesquisadora Edileuza Penha de Souza e a cineasta e roteirista Renata Martins.

A retrospectiva reunirá dez filmes dirigidos ou produzidos por Adelia. Serão exibidos ainda longas-metragens de Nelson Pereira dos Santos e Carlos Diegues, selecionados pela cineasta para a Carta branca a Adelia Sampaio, programa no qual o IMS convida seus homenageados a apontar referências cinematográficas. Os filmes serão projetados em novas e antigas digitalizações, em cópias 35 mm e 16 mm. (saiba mais abaixo)

Esta mostra integra um dos eixos curatoriais da programação de Cinema do IMS, dedicado às mulheres pioneiras na direção, que, neste ano, já incluiu a obra de Ida Lupino. Também faz parte da linha curatorial de homenagens a cineastas que marcaram a história, exibindo sua filmografia e os convidando a participar da Carta Branca, como feito com Jorge Bodanzky e Billy Woodberry. Ao realizar a retrospectiva de Adelia Sampaio, o IMS “reafirma a urgência de reconhecer e difundir a contribuição de uma diretora cuja trajetória tensiona silenciamentos históricos e inscreve novas possibilidades de leitura do cinema brasileiro”, afirma a equipe de Cinema do IMS.

Mais sobre os filmes exibidos na retrospectiva

Lançado em 1984, Amor maldito é um marco na história do cinema brasileiro por diversos motivos: primeiro longa-metragem dirigido por uma mulher negra no Brasil, foi também pioneiro ao mostrar um relacionamento lesboafetivo e o preconceito sofrido por essa comunidade. O filme é centrado no julgamento de Fernanda, mulher que é acusada de assassinar Sueli, sua namorada que cometeu suicídio. Inspirado em um caso real, o roteiro tem falas copiadas dos próprios autos do processo e é baseado também na cobertura da imprensa da época. Em entrevista sobre o longa, Adelia afirmou: “O filme tem muito a minha visão de mundo. A mulher, a maneira como ela é vista, a maneira como ela é tratada.

Antes de lançar seu primeiro longa, Adelia trabalhou na distribuidora Difilm, onde teve contato com a indústria cinematográfica, e também estabeleceu parcerias com nomes fundamentais, como o fotógrafo José Medeiros. Adelia produziu o primeiro filme dirigido por Medeiros, Parceiros da aventura (1979), exibido na mostra no IMS. O longa, de gênero policial, trata da saga de um trio que, ao roubar um carro com objetivo de vender drogas para um traficante, acaba sequestrando uma menina que dormia no banco de trás do veículo. Na busca por financiamento para o filme, Adelia enfrentou obstáculos ao defender um elenco majoritariamente negro, o que conseguiu alcançar, numa iniciativa pioneira.

A mostra traz também curtas-metragens dirigidos pela cineasta, como Denúncia vazia (1979), que narra a saga de um casal de idosos que decide cometer suicídio após receber uma intimação de despejo, Adulto não brinca (1980), centrado na tradição da malhação do boneco de Judas nos subúrbios, e Scliar, a persistência da paisagem (1991), sobre a obra do pintor Carlos Scliar.

Integra a seleção ainda o documentário AI-05: o dia que não existiu (2001), do jornalista Paulo Markun, com direção artística de Adelia, sobre os fatos que culminaram com a instituição do Ato Institucional n. 5 durante a ditadura militar. A temática do filme conecta-se com a própria trajetória da cineasta, que sofreu consequências em sua vida pessoal devido à repressão do regime, como comenta em entrevista sobre o longa: “Eu fiz esse filme com uma força dobrada. Porque, primeiro, em 1974, eu perdi um filho pra uma borrachada da polícia. Depois eu tive o pai dos meus filhos preso por um ano e meio até ser absolvido. E eu corri atrás esse um ano e meio com duas crianças pequenas, minha filha tinha um ano na época. Eu digo: é um dever meu fazer esse registro do AI-5 pra que as pessoas tenham conhecimento, porque esse país não tem memória nenhuma.

Sobre a Carta Branca

Acompanhando a filmografia da diretora, será exibida a Carta Branca a Adelia Sampaio. A seleção inclui três longas-metragens que Adelia escolheu como importantes referências cinematográficas em sua trajetória: Rio, Zona Norte (1957), de Nelson Pereira dos Santos, Xica da Silva (1976), de Carlos Diegues, ambos em cópias restauradas em 2k, e Chuvas de verão (1978), também de Carlos Diegues.

Em Xica da Silva, Adelia destaca o trabalho da atriz Zezé Motta e a fotografia de José Medeiros. Sobre Rio, Zona Norte, enfatiza a conexão entre Nelson Pereira dos Santos e Grande Otelo. Já em Chuvas de verão, chama atenção para a representação de dois personagens idosos e para os trabalhos de Miriam Pires e Jofre Soares.

Serviço
Retrospectiva Adelia Sampaio: se eles apagam, a gente reescreve
De 16 a 30 de setembro
Cinema do IMS Paulista

Ingressos das sessões: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)*
*A única exceção é a sessão de abertura (16/9, às 19h), com debate, que tem entrada gratuita, com distribuição de senhas 1 hora antes e limite de 1 senha por pessoa.

IMS Paulista
Avenida Paulista, 2424, São Paulo.
Horário de funcionamento: Terça a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h.

Projeto para discutir, criticar e divulgar os trabalhos de mulheres no cinema.

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