Críticas e indicações,  Filmes

I Wanna Dance With Somebody (2022)

Texto publicado originalmente no site Music Non Stop.


Biografia sobre a vida de Whitney Houston emociona, mas não foge do padrão

Em 2012 a morte de Whitney Houston emocionou, mas infelizmente não surpreendeu seus fãs. Em I Wanna Dance With Somebody – A História de Whitney Houston, a diretora Kasi Lemmons reinterpreta alguns do altos e baixos pelo qual a artista passou ao longo de sua vida e de sua carreira. A realizadora já dirigiu outra produção biográfica, entretanto o filme era sobre uma figura histórica, Harriet, disponível no catálogo da Netflix.

I Wanna Dance e os cacoetes de biografias musicais

Nascida em uma família na qual a mãe e a prima eram famosas no meio musical (Cissy Houston e Dionne Warwick), a jovem Whitney tinha o sonho de se tornar uma cantora profissional. No filme, a artista é interpretada pela inglesa Naomi Ackie. Entretanto, como vimos em outras biografias, a atriz dublou a cantora, o que não é estranho diante da alta capacidade vocal de Houston.

Ainda assim, a interpretação de Naomi representa fielmente os trejeitos de Whitney, fato que, segundo a atriz relatou em algumas entrevistas, deixou-a sem muito espaço para improvisos. Além de uma boa sincronia de lábios, todo o gestual da atriz buscou ser o mais próximo possível dos movimentos da atriz. Entretanto, tal esforço em alguns momentos engessa o que poderia ser um trabalho de atuação mais fluido.

Imagem: Divulgação/IMDb

Nem só de momentos ruins a vida e a bio da artista são feitos

Ainda que os piores momentos da vida de Whitney Houston sejam os mais lembrados, nem só de desgraças e desavenças a vida dessa mulher foi feita. I Wanna Dance aborda a relação conflituosa da cantora com os pais, seu casamento tóxico com o também cantor Bobby Brown e seu vício em drogas. No entanto, a sensibilidade de Kesi ao usar a câmera como condutora da narrativa traz a tona uma Whitney humana.

Com o fim de mostrar o caminho entre a ascensão e queda da estrela conhecemos uma mulher fragilizada pelas expectativas de terceiros. Em outras palavras, alguém ‘gente como a gente’, suscetível a erros, medos, dores, inseguranças e ansiedades. Assim sendo, aqueles que forem ao cinema conferir o filme poderão acompanhar momentos de felicidade recriados e reimaginados sobre a artista.

Imagem: Emily Aragones / TRISTAR

O não apagamento da bissexualidade de Whitney

Outro ponto interessante da biografia sobre Houston está no fato da realizadora do filme não esconder sua bissexualidade. A cantora teve um relacionamento om outra mulher, Robyn Crawford, interpretada por Nafessa Williams, que após o término passa a acompanhar a show woman como sua diretora criativa e assistente.

Há na produção momentos de afeto, alegria e cumplicidade entre as duas mulheres. Ao meu ver tais escolhas demonstram respeito com relação a um fato omitido por um bom tempo sobre a atriz. De maneira semelhante, a constante busca por uma perfeição ou até mesmo a repetição constante da palavra princesa proferida pelos pais de Whitney reforçam essa pressão feita em torno de uma imagem construída para ser bem comprada e aceita pelo público.

Em síntese, I Wanna Dance with Somebody está longe de ser uma obra-prima, possui o mais do mesmo de outras bios, mas não é uma bomba inassistível. Vale pelas canções imortalizadas n’A Voz, por um bom figurino que resgata o visual icônico de Whitney e pelo carisma de Ackie.

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Artista visual, desenhista, graduanda em Letras - Tecnologias da Edição. Membro Abraccine, votante do Globo de Ouro (Golden Globe Awards). Pesquisadora de cinema, principalmente do gênero fantástico, bem como representação e representatividade de pessoas negras no cinema. Devota da santíssima trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch.

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