Les Bleus – Uma outra História da França 1996-2016
A Copa do Mundo de Futebol Masculino acabou e com ela a graça de ver futebol todo dia. Mas pra quem está com saudade do esporte, vou recomendar um documentário (que no final fica recomendado para quem não está também, afinal, ao contrário do que disse certo comentarista esportivo, futebol e política se misturam, sim). O filme é Les Bleus – Uma outra História da França 1996-2016, dirigido por Sonia Dauger, Pascal Blanchard e David Dietz. Ele aborda as relações entre a seleção francesa de futebol e questões políticas, especialmente étnico-raciais. O futebol é usado como uma ferramenta para a reflexão sobre a complexidade racial do país. Apelidada de black-blanc-beur (negra-branca-árabe, em tradução livre) ela encarna os ideias de democracia, em que todos estão unidos representando a nação. Mas ao mesmo tempo escancara a fragilidade da integração racial, uma vez que quando vitoriosos, os seus jogadores são exaltados enquanto franceses, mas quando derrotados são apontados como estrangeiros sem humildade diante de sua situação. Quando uma parcela significativa dos franceses negros e árabes vivem em periferias, excluídos do bem estar social compartilhado pelo restante da população, e uma das chances de ascensão social é justamente o esporte, esse facilmente se torna campo de conflitos ainda mal resolvidos da história colonialista do país. O racismo se mascara de nacionalismo, quando Platini, por exemplo, jogador branco da seleção na década de 90 e de ascendência italiana, não tem sua nacionalidade questionada, mas isso ocorre com Zidane, jogador árabe de ascendência argelina que jogou pelo time no final dos anos 90 e começo dos 2000. O filme utiliza depoimentos de ex-jogadores, técnicos e pesquisadores para traçar um belo panorama sobre o vai e vem político e de opinião pública em relação à seleção francesa nos últimos anos. Espero que possa haver uma atualização em alguns anos com as consequências do título recém obtido.