LITTLE WOMEN
Comecei a assistir à Adoráveis Mulheres, da Greta Gerwig, com a trilha sonora imaginária “I Just Wasn’t Made For These Times”, dos Beach Boys. Sempre tenho a sensação anacrônica de que nasci na época errada, tempos de amores líquidos, distantes dos sentimentos refinados e dos poetas suicidas.
Contrapondo a vida restrita das quatro irmãs Meg, Amy, Beth e Jo ao luxos e extravagâncias do amigo vizinho Laurie (apaixonado por todas elas ao mesmo tempo), desta vez a diretora do apenas fofinho Lady Bird acertou em quase tudo, se descontarmos um pouco das doses cavalares de melodrama herdadas do romance Mulherzinhas (quão pejorativo soa essa tradução?) da Louisa May Alcott. Greta acertou principalmente ao questionar a premissa conservadora exigida à literatura “feminina” de então. Sim, histórias triviais e dramas domésticos interessam, sonhos diferentes não importam menos, mas a protagonista não precisa mais se casar ao final… nem morrer.
Impressiona aqui também toda a metalinguagem sobre a concepção do livro, os processos artesanais de edição, a negociação burocrática, o bloqueio criativo que leva a queimar os escritos que restaram pós crise de ciúmes e inveja de irmãs, das quais “a vida é curta demais para sentir raiva”.
Apesar de toda a ânsia por independência da Jo, o amor (aaah o amor) ainda parece ser uma resistente busca universal, ou quem sabe uma consequência de caminhos. O que essas meninas nos fazem lembrar é que apesar de não termos completo poder sobre quem amamos, há muitas formas diferentes de amar, casais que funcionam ou impossíveis porque se matariam juntos, amigos com lembranças de afeto, cartas rasgadas para não interferir na felicidade alheia… Terminei o filme mais convencida de que os sentimentos (ou a ausência deles) continuam os mesmos, apenas se adaptam ou se escondem entre tendências comportamentais das épocas.