• Críticas e indicações,  Filmes,  Livros

    Copo americano

    Farei uma recomendação dupla, pois associei duas produções de mulheres com copos americanos nas capas. A primeira, copo vazio, é o novo livro da Letrux, Tudo que já nadei, dividido em Ressaca (“famoso textão”), Quebra-mar (poemas) e Marolinhas (aforismos anônimos). Comecei a ler as três partes em ordem inversa, começando pelo ato 3, e percebi que a Letrux é mesmo melhor na prosa. As múltiplas escolhas de formatos que ela explorou em Zaralha, projeto anterior, aqui se concentram no textual e eliminam fotos e desenhos, mas ela mantém o estilo memorial. Nesse corpo sem órgãos submerso há espaço ainda para diálogos de zap – ficcionais ou não – e ainda breves…

  • Críticas e indicações,  Filmes

    Liv Ullmann, a garota rebelde

    Está disponível no acervo da mubi o longa The Wayward girl (Ung flukt, 1959), “A garota rebelde” ou “Fuga jovem”, em tradução livre, estreia de Liv Ullmann no cinema e último filme da cineasta Edith Carlmar (1911–2003), primeira mulher a dirigir um filme na Noruega. A presença e expressão da atriz domina a produção, é fascinante observá-la no início da carreira, aos 20 anos, com looks minimalistas bem marcantes, um visual pin up característico da década. Na trama, ela vive Gerd, jovem que foge para uma casa de campo com um garoto, Anders, estudante de classe média. Os pais de ambos intervém na aventura, ficam preocupados com as consequências das estripulias e…

  • Críticas e indicações,  Discos

    Catarina Dee Jah

    Estava em casa amufinadaSem ver a luz do diaCaiu um raio em mimMe mostrou o que eu não via Coluna curvadaAmigas fura olhoCoceira pelo corpoSó faltei criar piolho Pele sem viçoFalta de inspiraçãoNem um brinco na orelhaMiojo alimentação Conheci Catarina Dee Jah pelas vinhetas da MTV*, que eu gravava em fitas VHS entre videoclipes e assistia milhares de vezes na juventude. Fiquei surpresa e feliz ao reencontrá-la em 2013 no álbum Mulher Cromaqui, uma inusitada e deliciosa mistura de punk com frevo, brega e outros ritmos – e agora (finalmentee!) disponível nas plataformas. As letras sagazes, como o trechinho que citei acima, têm um humor peculiar e uma ironia afiadíssima, algumas…

  • Críticas e indicações,  Livros

    Mulheres imPERFEITAS

    Só na introdução de Mulheres imPERFEITAS, lançado no Brasil pela editora Cultrix, Carina Chocano me fez rever vários “desconfortos omitidos” da profissão de crítica de cinema, reafirmar meu amor pelo filme Ruby Sparks (e até pela Isla Fisher!), e perceber o quanto Alice (no País das Maravilhas) é uma das poucas, de fato, protagonistas, de […] https://stephaniaamaral.wordpress.com/2020/10/21/mulheres-imperfeitas/...

  • Críticas e indicações,  Filmes

    Em minha pele

    Em minha Pele (Dans ma peau, 2002), Marina de Van retoma e explode o conceito de insólito que ensaiou uns anos antes na atuação em Sitcon (1998), do François Ozon. Na introdução com música lounge e tela dividida, objetos como clipes, réguas e tesoura fazem uma contraposição com o mundo pragmático que logo será questionado.No filme, […] https://stephaniaamaral.wordpress.com/2020/10/12/em-minha-pele/...

  • Críticas e indicações,  Seriados

    Aggretsuko

    Fazia muito tempo que eu não assistia a um anime. O argumento de um amigo que me convenceu a ver Aggretsuko foi “é da Sanrio da Hello Kitty, é diferente, é sua cara”. E de fato me senti representada em muitos pontos por essa… raposinha? gatinha? panda (?!) e seus surtos death metal no karaokê. Berrar guturais incompreensíveis é a forma da bichinha de desabafar da rotina hostil em um ambiente de trabalho cheio de desafios e abusos (eu fazia algo bem semelhante quando era mais xovem). Mesmo não sendo um show impróprio para menores, os personagens – animais antropomorfizados muito fofinhos como as diretoras Gori e Washimi – bebem MUITO após…

  • Críticas e indicações,  Filmes

    In my room (2020), de Mati Diop

    Assisti a esse curta certeiro da Mati Diop na condição atual de isolamento, praticando a tradução literal do título In my Room (“em meu quarto”), com vozes mentais rodando em minha cabeça. Lembranças confortam a diretora e atriz nesse estudo poético sobre a ausência da avó e a nostalgia dos nossos. Stalker das janelas alheias de milhares de apartamentos, gaveteiros ocupados nesses tempos estranhos, nada lhe apetece na geladeira. Performances glamourosas da ópera “La Traviata” de saltos altos vermelhos e roupas da MiuMiu, luzes neon no chão: a breve festa exibicionista a ajuda um pouco a driblar o tédio, que retorna em seguida e pede uma garrafa no frigobar. Foi uma época…

  • Críticas e indicações,  Filmes

    De nuevo otra vez (2019), de Romina Paula

    Na estreia da atriz Romina Paula atrás das câmeras em De nuevo otra vez (2019), a diretora filma seu convívio com a mãe e o filho de 3 anos, em um retorno às raízes para se descobrir também como filha. Neste misto de documentário e ficção, espanhol e alemão, há montagens divertidas e instigantes, quebra da quarta parede e brincadeiras com fotografias antigas. Em pouco tempo, ela confessa sentimentos que fogem do senso comum, como o distanciamento ao olhar alguém de perto, lança questões profundas como “a melancolia é um privilégio da juventude?” e traça linhas tênues entre medo e desejo. O filme foi comentado no nosso podcast sobre a…

  • Críticas e indicações,  Filmes

    Take this Waltz

    Margot sente medo de estar entre duas coisas. Com constante senso de perigo, sente medo de sentir medo. As unhas azuis dos pés dela denotam uma fragilidade, uma delicadeza infantil, uma Madame Bovary oculta, uma palhaça triste. Como adulta ela escolhe não sucumbir à melancolia, ainda que pareça perdida e se sinta culpada por ter […]

  • Críticas e indicações,  Discos

    Such Pretty Forks in the Road, de Alanis Morissette

    Acompanho a Alanis mais propriamente desde o Acústico MTV em 1999 (pra ser honesta antes disso só tinha visto videoclipes) e sou muito fã do álbum Supposed Former Infatuation Junkie, do ano anterior. Depois disso tentei ouvir uma coisa ou outra mas parei de acompanhar :/ e tive uma grata surpresa agora com Such Pretty Forks in the Road (2020), nono álbum de estúdio da cantora, lançado em julho depois de um hiato de oito anos! Alanis volta com uma alegria bem vinda – e muito glitter – em tempos tenebrosos, em “Smiling” e “Reasons I Drink” e segue firme passando pela ótima – e mais catártica “Reckoning” – até…