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Loja de Unicórnios

Segundo a Wikipedia, “A geração Y (também chamada geração do milênio, geração da internet, ou Millennials) é um conceito em Sociologia que se refere à corte dos nascidos após o início da década de 1980 e até ao final da década de 1990″. Muito se fala sobre os millennials e as pessoas tendem a colocar a conta dos estereótipos no mais jovens, quando na verdade somos as pessoas entre 20 e 40 anos.

Nós crescemos em um Brasil redemocratizado, alguns de nós vimos a queda do muro de Berlim, a abertura para as importações, a múltiplas trocas de moedas, a sociedade mudando gradativamente. Provavelmente muitos de nós também foram incentivados a fazer o que quiséssemos, a explorar nossos talentos. Nossos pais pais não escolheram um trabalho pelo que se chama de “aptidão”. Eles fizeram o que estava na frente deles para pagar seus boletos. Aos trinta anos muitos tinham família constituída e talvez uma casa própria.

Mas a sociedade mudou, a economia mudou, a forma como nos relacionamos com o trabalho mudou. Foi-nos prometido que “talento” (nem vou entrar no mérito de questionar se isso existe ou não) e esforço rende frutos mas muita gente se vê batalhando para ter algo possa minimamente ser chamado de carreira, em meio a tanta precarização. Loja de Unicórnios é uma visão bastante millennial sobre realidade.

Escrito por Samantha McIntyre e dirigido por Brie Larson, que também interpreta Kit, a protagonista, o filme passou em 2017 no Festival de Sundance e ficou engavetado até agora, sendo lançado diretamente na Netflix. Kit estudou arte na faculdade e voltou para a casa dos pais com a sensação de fracasso, por não ter seus talentos reconhecidos. O professor que não gostou de sua obra é retratado como um obtuso. Os pais a comparam com um amigo de infância, que já tem seu próprio apartamento. Ou seja, o problema sempre são os outros. Logo, um misterioso vendedor de unicórnios, vivido por Samuel L. Jackson, entra em contato com ela oferecendo seu precioso animal, desde que ela tenha o ambiente ideal pra a criatura: uma vida estruturada e plena de amor.

O filme não aprofunda a personalidade de Kit e muitas vezes ela parece uma sátira de manic pixie dream girl, embora isso provavelmente não seja intencional. Tudo é bastante fofinho, embora um pouco bobo e sem conflitos, e as questões são abordadas com uma leveza às vezes bastante inadequada (como é o caso de assédio no ambiente de trabalho). Mas esse é o filme certo se você tem abertura para bastante açúcar e talvez algum incentivo para arrumar sua vida. Faz uma boa duplinha com Tiny Furniture (2010), da Lena Dunham.

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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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