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O Casal Perfeito (2024)

Semana eu queria ver algo leve e lá estava a minissérie O Casal Perfeito (The Perfect Couple, 2024), com apenas 6 episódios e Nicole Kidman como protagonista, interpretando uma mulher rica em uma trama de crime e mistério. Perfeito, não é?

A história, baseada em um romance de mesmo nome escrito por Elin Hilderbrand, é simples. No primeiro episódio descobrimos que Amelia (Eve Hewson), uma zoóloga de classe média, vai se casar com Benji (Billy Howle), um milionário herdeiro que, como costuma ser nesse tipo de trama, não se posiciona e é subserviente aos pais. O casamento vai ser na casa de praia dos pais dele, que pertence a eles há 5 gerações. Os sogros de Amelia são o tal casal perfeito do título. Greer (Nicole Kidman) é uma escritora de sucesso, que age de forma controladora sobre os três filhos (e basicamente todos ao seu redor). Ela ascendeu socialmente e se adaptou ao mundo dos muitíssimo ricos do marido, Tag (Liev Schreiber). 

Completam o elenco o irmão mais velho bully de Benji, Thomas (Jack Reynor), sua esposa, Abby (Dakota Fanning), o irmão mais novo (Sam Nivola), a melhor amiga de Amelia, Merritt (Meghann Fahy), o melhor amigo de Benji, Shooter (Ishaan Khattar), uma amiga rica da família, Isabel (Isabelle Adjani), a empregada da casa, Gosia (Irina Dubova) e os policiais Dan (Michael Beach) e Nikki (Donna Lynne Champlin). Sim, policiais porque ao fim do primeiro episódio é revelado que, com todos reunidos no fim de semana para os festejos, aparece uma pessoa morta na praia. E qualquer um pode ser o assassino.

O primeiro mistério é de quem seria o corpo. Daí pra frente, com altas doses de inverossimilhança, a investigação é marcada por reviravoltas absurdas que se empilham sem respiro. As atuações são grandiosas, como se a trama fosse drama sério. É hilário como em cenas com diálogos tensos e rebuscados, a trilha sonora faz uso de música leve e divertida. É como se a direção ou não soubesse para onde ir, ou quisesse propositalmente demonstrar escárnio pelo material. Jamais saberemos qual deles. 

A diretora responsável pela minissérie é a dinamarquesa Susanne Bier. Sempre acho curiosa a trajetória dela, que se tornou respeitada no cenário internacional com dramas intensos que abordam as dificuldades das relações entre pessoas (em diversos níveis) e complexas questões morais. Corações Livres (2002), Irmãos (2004) (que teve remake holywoodiano que nunca vi, com Tobey Maguire, Jake Gyllenhall e Natalie Portman), Depois do Casamento (2006) (Indicado ao Oscar de Filme em Língua Estrangeira) e Em um Mundo Melhor (2010) são todos filmes pelo menos interessantes e consistentes.

Mas, com essa sequência, ela foi chamada para trabalhar em Hollywood. Não vi tudo que ela fez nessa nova fase, mas achei Coisas que Perdemos pelo Caminho (2007) fraco e Serena (2014), um filme com Jennifer Lawrence que ficou um bom tempo na gaveta, pavoroso. A minissérie O Gerente da Noite (2016), adaptada de um livro de John Le Carré tem seu charme. Depois veio Bird Box (2018), aquele filme da Netflix com a Sandra Bullock que gerou todo um auê quando saiu, não correspondeu às expectativas e hoje em dia ninguém mais lembra.

E aí chegamos a O Casal Perfeito, uma obra que claramente parte de um texto original pavoroso e em que todo mundo parece estar tentando dar o seu melhor para emergir da mediocridade. Não é dizer que o resultado não seja divertido. O aspecto whodunnit realmente engaja e me vi comentando “acho que foi fulane, ih, mudou tudo, talvez foi ciclane”. Eu adoro histórias de investigação e colocar os acontecimentos em um mundo tão longe da nossa realidade, como o dos bilionários, torna tudo uma espécie de fantasia que espairece. Não é nada que vai marcar a vida de ninguém, mas é possível se entreter com o grande elenco empenhado nesse drama canhestro, especialmente se você quiser algo só para relaxar. No final, é um novelão. Mas pensar que uma cineasta autoral de renome internacional esteja sendo desperdiçada com esse tipo de pipocão é meio triste. Pelo menos deve pagar bem os boletos (espero).

O Casal Perfeito (The Perfect Couple, 2024) está disponível para streaming na Netflix.

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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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