The Killing e Cowboy Bebop
Chegar ao fim de algumas séries está partindo meu coração.
O ano de 2023 está no terceiro mês e já me senti devastada pelo fim de duas séries: Cowboy Bebop e The Killing. São séries mais velhas eu sei, uma de 1998-1999 e a outra de 2011-2014. Mas e daí, tô sofrendo mesmo, uai. E tô sofrendo mais porque me apeguei aos personagens.
Em janeiro estava à toa, nesse processo de férias misturado com uma vontade de assistir algo sem o compromisso de produzir conteúdo. Assim comecei a ver Cowboy Bebop e quando percebi já estava me sentindo em casa naquelas aventuras psicodélicas, coloridas, western-espaciais, embaladas por jazz e rock.
Tenho que ressaltar dois pontos que me atraem muito em Cowboy: o primeiro é a trilha sonora. Duvido que alguém que já tenha assistido a abertura do anime cogitou que a produção poderia ser chata e devemos isso a brilhante Yoko Kanno, compositora de Tank!, canção da abertura. A musicista, bem como o criador da série compreenderam como o jazz e blues carregam em si uma melancolia que combina com as aventuras de Jet e Spike pelo espaço. Ah, não se esqueçam de prestar atenção nos vovôzinhos que aparecem em alguns episódios jogando cartas e se chamam Antônio, Carlos e Jobim.
Em segundo lugar, Bebop me faz pensar na solidão como companhia. Em vários momentos os personagens vivem momentos em que estão perdidos em seus pensamentos, lidando com possibilidades de resolver seus problemas ou mesmo tragando um café ou um cigarro desligados da realidade. O momento e a vida que levam é agitada, com excessos materiais, estímulos visuais, barulho… um acúmulo que não muda, quinquilharias descartáveis do presente e do passado entulhadas composto a paisagem e tal qual a água de um rio, Spike, Jet e as demais personagens passam por aquelas memórias, cada vez com uma forma diferente.
Tanto a necessidade da pausa que me desligue do mundo quanto a dificuldade de lidar com frustrações andam orbitando no meu entorno. Me pego cansada em vários momentos, mas após a maratona The Killing fico feliz de não viver no universo daqueles personagens, pois “meu Deus que galera cheia dos problemas!” A série americana, adaptação da série dinamarquesa Forbrydelsen, tem como vértebra a morte de Rosie Larson (Katie Findlay). Entretanto, a trama não se atém aos calotes de investigação se dedicando às minúcias de como cada prova é processada e desenvolve a vida das personagens envolvidas no caso.
São três os núcleos dramáticos: os par de detetives, a família da moça assassinada e o comitê eleitoral do candidato a prefeito. Cada um tem seus problemas, passados que os deixaram cheios de marcas, a vida que continua acontecendo e o acúmulo de mágoas. E para completar o ambiente cinza e úmido de Seattle coroa a melancolia que percorre as quatro temporadas da série.
A protagonista, Sarah Linden (Mireille Enos) parece ser constituída de situações mal resolvidas que vêm transbordando e, se os problemas são muitos na 1ª e 2ª temporada, na 3ª a cereja do bolo é adicionada no topo dê-se amontoado de merda. E o mesmo serve para Holder (Joel Kinnaman) que não pode ver um problema que mergulha nele de cabeça. Ambas personagens são muito sofridas e a escolha de Veena Sud para as personalidades deles, bem como para o desdobramento de suas particularidades, provocam na gente em princípio uma vontade imensa de não se importar com ele, seguida da necessidade de atravessar a tela da TV e colocar os dois no colo a cada coisa que anda errado.
Sem dúvidas, encerrei as maratonas querendo um abraço, uma cerveja e um cigarro enquanto olhava para o céu e admirava as estrelas, minha pequenez no mundo e a finitude da vida. Cowboy Bebop está na Netflix e The Killing no Star+.