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[Tribeca 2025] Honeyjoon

Este texto faz parte da cobertura do Tribeca Film Festival 2025, que ocorre entre 4 e 15 de junho.


Há um episódio de A Year In The Life (2016), continuação da série Gilmore Girls (2000-2007), em que Lorelai (Lauren Graham) e Emily (Kelly Bishop) brigam ao lidar de formas diferentes com o luto após a morte de Richard (Edward Herrmann), pai da primeira e marido da segunda. Para quem não lembra – ou não assistiu e não se importa com spoilers -, a filha se revolta por achar que a mãe não está enlutada o suficiente e isso é o início da 49583493a discussão entre elas. Foi inevitável assistir a Honeyjoon (2025), de Lilian T. Mehrel, e não lembrar do conflito entre duas das três garotas Gilmore. O filme, que faz parte da programação de Tribeca neste ano, também lida com formas diferentes de viver o luto e como isso fratura uma relação já complicada entre mãe e filha.

Em Honeyjoon, as imagens da bela região dos Açores, em Portugal, contrastam com os sentimentos que Lela (Amira Casar) e a filha, June (Ayden Mayeri), tentam entender. A mãe não aceita a morte do marido, um ano antes, e a solidão que veio junto. Do outro lado, uma jovem que não fala a mesma língua que a mulher com quem divide o quarto naqueles dias no arquipélago português. E não fala a mesma língua de forma literal, já que não é apenas a relação com a tragédia que divide a família. Há um abismo cultural entre elas – Lela é persa, enquanto June foi criada na Inglaterra e não é fluente no idioma da terra da mãe. As preocupações da mais velha sobre a situação política do Irã também não comovem a mais nova. 

O filme traz reflexões sobre a relação que cada pessoa tem com os vários tipos de adeus que são dados em uma vida. Em um curto período de tempo, Lela e June precisam aprender a se encontrar no meio do caminho, a dar uma trégua para que cada uma possa processar seus sentimentos. Mehrel, que também assina o roteiro do longa, entrega um retrato delicado sobre a dificuldade das relações humanas, sobretudo em tempos que as conexões se dão pelo virtual. O filme chega a irromper em reels ou stories de Instagram para mostrar que, entre alfinetadas e silêncio, há espaço para que os sorrisos artificiais das redes sociais deixem escapar uma alegria genuína que estava escondida. 

Falando em sorrisos, a diretora também consegue equilibrar a tristeza que rodeia aquela relação com momentos cômicos bem naturais. A cena do sexting em sonho ou o momento em que June percebe que ela e a mãe são o único não-casal daquele resort e que estar solteira ali custa mais caro do que estar em um par romântico são dois exemplos dessa leveza. 

É bonito ver como, aos poucos, os papéis vão se invertendo e cada uma consegue tirar de dentro de si o que estava escondido, não apenas com o luto, mas também com o prazer sexual. Honeyjoon busca a proximidade com o espectador, como que para recuperar a empatia que parece perdida entre mãe e filha em vários momentos do longa. E, pelo menos para esta que vos escreve, o resultado foi mais do que alcançado.

Crítica de cinema, membra da Abraccine, amazonense, 30+, ama novela mexicana

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