
[Tribeca 2025] Inside (2024)
Este texto faz parte da cobertura do Tribeca Film Festival 2025, que ocorre entre 4 e 15 de junho.
Em Inside (2024), o diretor e roteirista Charles Williams expõe o sistema prisional como um ciclo de desumanização. Ao mostrar as histórias que convivem em uma cadeia na Austrália, o filme não busca justificar o que os detentos que estão ali fizeram, e sim, mostrar que eles vivem em uma prisão com muros bem mais altos que aquela estrutura física: a culpa.
Vincent Miller é Mel, um jovem que está em custódia desde os 12 anos. Ao completar 18, é transferido de um centro de detenção juvenil para uma cadeia. O protagonista de Inside pouco fala. Na primeira vez que o ouvimos – para além da narração que acompanha todo o filme -, ele grita. Expurga uma dor que atravessa paredes. Tenta quebrar uma janela. É um momento isolado em um filme que, em sua maior parte, o coloca em ponto de reação aos outros colegas, principalmente Mark (Cosmos Jarvis) e Warren (Guy Pearce, em uma atuação bem mais interessante que a indicada ao Oscar em O Brutalista).
Com Mark, Mel passa a participar de cultos religiosos, com sermões carregados de autoflagelação que mais servem para mostrar a autoridade do personagem de Jarvia naquele espaço. Com Warren, em especial, há uma relação paternal. E, quando o personagem de Pearce consegue a liberdade condicional, o filme é inteligente em mostrar o desamparo em que fica Mel.
Nesse sentido, os flashbacks e a vida “do lado de fora” acabam inchando um pouco a proposta de Williams. Nos fragmentos do dia a dia da cadeia, o filme mostra como aquele espaço não foi criado para a ressocialização, e sim, para a penitência.
Escrever cartas para as vítimas, participar de cultos com sermões que celebram a condição de pecadores daqueles presos, terapia em grupo que está mais preocupada na forma com que eles contam sobre o que aconteceu. Inside é um filme bem mais interessante quando reflete os problemas do sistema carcerário por meio das histórias individuais. Um filme duro como aquelas paredes, claustrofóbico como aquelas celas e triste como os olhos de Mel.


