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Assassino por Acaso (2023)
Texto publicado originalmente na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui.
Gary (Glen Powell) é um professor universitário divorciado, pai de pets, pacato e tedioso que começa a colaborar com a polícia com equipamentos de escuta para ações que exigem um agente infiltrado. Quando Jasper (Auntin Amelio), um desses agentes, é afastado por cento e vinte dias por mal comportamento em campo, ele é colocado em seu lugar, encarnando o personagem chamado Ron, um matador de aluguel, tornando-se o Assassino por Acaso (Hit Man, 2023) do título. Ron exsuda autoconfiança. O que ele precisa fazer é extrair confissões de pessoas que querem contratar o seu serviço. Quando a pessoa interessada fecha o acordo e paga o profissional, é presa em flagrante pelo crime.
Gary começa a se divertir nessa vida dupla e investe até mesmo em acessórios de figurino e maquiagem. Deixa de lado as roupas largas, desleixadas e beges e troca por cores escuras, cortes ajustados, correntinha no peito. E tudo muda quando conhece Madison (Adria Arjona), que explica a Ron que é casada com um homem violento e precisa matá-lo. Ele recomenda que use o dinheiro para recomeçar a vida e, assim, perde o flagrante. Mas eles não param de ser ver.
Como um neo-noir, o filme trabalha um jogo de incertezas. Não há como saber se Madison realmente era ameaçada pelo marido ou até que ponto iria a violência dele. Quando ela diz que precisa de ajuda, paira uma dúvida se não estaria usando o protagonista o tempo todo. Essa brincadeira de dúvidas e sedução é esticado ao máximo até o final. Os personagens secundários ajudam bastante e a relação de Gary/Ron com sua colega policial (Retta) e com Phil (Sanjay Rao) é muito boa. Mas não se engane, esse é um filme de um homem só.
Ele é dirigido por Richard Linklater, que há tempos não acertava assim. O roteiro é escrito por ele em parceria com o próprio Glen Powell. Powell, por sua vez, também produz o filme. Tudo isso para dizer que a narrativa foi construída para ser um veículo específico para o talento do ator, que aqui brilha. Creio que foi a Camila Henriques que, no grupo de telegram do Feito por Elas, cunhou o termo “ator de IA” para referir-se a ele. Convenhamos, ele é uma espécie de Ken humano. Os cabelos com topete perfeito, o sorriso rasgado ridiculamente branco, os olhos meio fechadinhos… Ele realmente é ideal para encarnar o tipo John Glenn, como faz em Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures, 2016): carinha de poster boy.
Eu tive implicância com ele por um tempo. Não gosto de Top Gun: Maverick (2022) e considero Tudo Menos Você (Anyone But You, 2023) bastante esquecível. Adaptando o termo de Camila, comecei a chamá-lo de galã de IA. Mas há que se dizer que com esse filme, o galã de IA me conquistou. Com ele produzindo e co-roteirizando, há espaço para mostrar seu talento cômico e destacar seu charme, de um jeito que lembra muito o de astros da Hollywood Clássica.
A trama escalona de uma forma rocambolesca, mas não importa muito: até chegar nesse ponto, quem assiste já está rendido nos absurdos e no humor dos acontecimentos. Os créditos finais, que revelam um pouco do verdadeiro Gary (que realmente existe!), também dão dimensão do exagero utilizado na elaboração da trama que serve ao ator. E funciona. Conseguiu me arrancar boas risadas e estou totalmente convertida para o time galã de IA.
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