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Dicas de streaming

Vou fazer um apanhado de dicas de filmes disponibilizados recentemente em streaming. Entrou no catálogo da Filmicca Born in Flames (1983), de Lizzie Borden, que é um sci-fi punk simplesmente eletrizante, instigante e inspirador. Se deixe levar para além da estética rudimentar do baixo orçamento, pelas ideias incendiárias nessa obra cuja trama se passa em um futuro recente distópico e com uma abordagem política feminista, que aborda também questões étnico raciais e de orientação sexual. Eu sou apaixonada por ele e ele rendeu um dos nossos programas que mais gosto de ter feito.

Na mesma plataforma estreou agora o maravilhoso documentário Histórias que Nós Contamos (Stories We Tell, 2012), da Sarah Polley. Hoje é comum ter docs que abordam histórias familiares ou as próprias pessoas retratadas, mas Polley fez isso de maneira exímia, com o detalhe que a família dela é famosa no Canadá e ela documentou aquilo que foi descobrindo conforme registrou, incluindo o questionamento dos seus laços de parentesco. É um dos meus docs preferidos e ficou em 18º lugar na nossa votação de melhores filmes da década de 2010, feita com mulheres críticas de cinema e pesquisadoras, lá em 2019.

Desde que assisti, há uns anos atrás, ao documentário Merata: Como Minha Mãe Descolonizou a Tela (Merata: How Mum Decolonised the Screen, 2019), dirigido, como o nome indica, por seu filho Hepi Mita, tinha muita vontade de ver algo da cineasta Merata Mita. O doc dele destaca o pioneirismo da diretora maori, mas a obra dela estava, até então, para meu desapontamento, inacessível. Agora é possível ver pelo menos um de seus filmes! Patu! (1983) é um documentário que aborda as manifestações anti-apartheid que tomaram conta da Nova Zelândia em 1981, pedindo o fim do tour do rugby (esporte muito praticado pelos maori) que traria o time sul-africano para o país. Trata-se de um retrato assombroso, pela violência chocante com que os manifestantes foram recebidos, mas também politicamente forte, pela solidariedade anti-racista entre povos. Também está disponível na Filmicca

Por fim, ainda na Filmicca, esses dias assisti a um filme da Chantal Akerman chamado Anos Dourados (The Golden Eighties, 1986). A história se passa dentro de um shopping center, entre uma loja de roupas e um salão de beleza. A estética colorida e estilizada, as histórias de desencontros amorosos e os números musicais fofinhos têm uma leveza que destoa de outros filmes de Akerman que eu já vi, mas o resultado é muito bom! Sou suspeita, porque amo musicais, mas adorei. 

Por sua vez, a Mubi está com uma minicoleção chamada Memórias da Resistência: Especial Duplo da Ditadura Brasileira. Um dos filmes filmes na seleção é Que Bom Te Ver Viva (1989), de Lúcia Murat (sobre a qual temos um podcast). Meio documentário e meio ficção, o filme híbrido traz depoimentos de mulheres presas durante o período e Irene Ravache entremeando tudo como uma espécie de alter ego da diretora, comentando os acontecimentos a partir de suas vivências. Adequadíssimo para essa semana (e sempre). Se você nunca viu, corre.

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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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