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[47ª Mostra de São Paulo] Máscara de Ferro (2023)

Esta crítica faz parte da cobertura da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 19 de outubro e 1 de novembro.


Máscara de Ferro (Iron Mask, 2023), é o filme de estreia do diretor coreano Kim Sung-hwan. Trata-se de um filme de esporte, que abraça os tropos sobre obstáculos e superação que esse tipo de obra costuma ter. Mas também é um melodrama, e, como tal, aprofunda o conflito edipiano de seu protagonista, marcado pela relação com o pai ausente.

Na trama, Kim Jae-woo é um jovem talentoso, mas indisciplinado, que treina kendo, uma luta de espadas de bambu, e está participando de uma concentração que definirá a seleção sul-coreana para o campeonato mundial, que acontece a cada três anos. Os atletas praticam e se enfrentam e os treinadores elaboram um ranking a partir dessas atividades, que resultará, ao final, nos cinco escalados.

Acontece que chegando lá, Jae-woo descobre que um dos pré-selecionados é Tae-su, que, quando era menor de idade, havia matado seu irmão mais velho em um acidente na prática esportiva. O pai de Jae-woo, ao invés de ficar com a família, resolve sair de casa e treinar o rapaz, por motivos que nunca são totalmente explicados no filme. É dessa forma que ele se tornou o melhor atleta entre eles. E o protagonista o culpa por destruir sua família, matando o irmão e tirando seu pai de casa, deixando a mãe, uma personagem sempre com os nervos em frangalhos, sozinha.

O uso de câmeras subjetivas intensifica o senso de claustrofobia do traje para a prática do kendo, arrematado por um lenço amarrado metodicamente à cabeça, seguido pela máscara de ferro que dá nome ao filme. Ênfase é dada no suor que escorre, no olhar filtrado pela tela que protege o rosto, na respiração entrecortada, na mão crispada em antecipação pelo golpe a desferir. O desgaste físico de cada confronto é perceptível e o balé dos corpos e o vigor dos movimentos é central para o retrato dos personagens.

A narrativa reforça a idea de que a raiva tira o foco da pessoa, que, quando se deixa dominar por ela, não consegue se concentrar nas pistas que indicam os próximos movimentos do adversário. É o caminho oposto do rigor, da disciplina e do controle. Com montagens de treinamento típicas de filmes de esporte, o filme reforça a oposição entre os dois atletas pelas cores: Tae-su, já classificado, se veste de branco, enquanto Jae-woo usa preto, colocando-os sempre em contraste, quando não em enfrentamento direto.

A obra como um todo tem um estilo narrativo que flerta com uma linguagem e uma estética hollywoodianas. Também retrata a trajetória do personagem principal sem surpresas, dentro de uma lógica previsível de filme de superação. Mas, mesmo assim, Máscara de Ferro é bonito de ver, especialmente durante as cenas que retratam os embates entre atletas.

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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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