[48ª Mostra de São Paulo] Dormir de Olhos Abertos
Este texto faz parte da cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro. Publicado originalmente na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui.
Dormir de Olhos Abertos (Brasil, Taiwan, Argentina, Alemanha, 2024, Ficção, cor, 97 min)
Direção: Nele Wohlatz
Sinopse: Uma cidade costeira no Brasil. Kai chega de Taiwan para as férias com o coração partido. Um ar-condicionado quebrado a envia para a loja de guarda-chuvas de Fu Ang, que poderia se tornar um amigo, mas a estação chuvosa não chega, e o estabelecimento do rapaz desaparece. Enquanto procura por Fu Ang, Kai descobre a história de Xiaoxin e um grupo de trabalhadores chineses em um chique arranha-céu. Kai se vê estranhamente espelhada no conto de Xiaoxin. Vencedor do prêmio da crítica da seção Encontros do Festival de Berlim.
Comentário: A diretora estava na sessão e explicou que, em certo festival, conheceu Kleber Mendonça Filho e ele lhe falou de Recife. Ela, alemã que residia na Argentina, resolveu experimentar a cidade brasileira. Mas avisou que o filme foi realizado em um momento em que, como migrante, não se sentia em casa em lugar nenhum do mundo. E isso transparece na obra. A protagonista, taiwanesa que turista no Brasil, mergulha na história passada de uma moça chinesa que morava na argentina e que veio ficar com a tia, uma importadora de itens de camelô, e se sente deslocada no Brasil. É curioso ver o olhar estrangeiro que se projeta na gente. O estranhamente do filme é sobre nós: nossas roupas, nossa comida, nossos costumes, até mesmo nosso cheiro. Brasileiro dança sem motivo, rouba, é xenófobo e ignorante sobre os países dos outros. O filme tem uma certa morosidade: o drama da terra estrangeira, da dificuldade do idioma, das complexas relações de dependência e trabalho, nunca engata totalmente. Trata-se de uma narrativa de desconforto, que permanece distante de seus protagonistas.