[48ª Mostra de São Paulo] Manas
Este texto faz parte da cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro. Publicado originalmente na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui.
Manas (Brasil, 2024, Ficção, cor, 101 min)
Direção: Marianna Brennand
Sinopse: Marcielle é uma jovem de 13 anos que vive em uma comunidade ribeirinha na Ilha do Marajó, no Pará, com o pai, a mãe e três irmãos. Instigada pelas falas maternas, ela cultua a imagem de Claudinha, sua irmã mais velha, que teria partido para bem longe após “arrumar um homem bom” nas balsas que passam pela região. Conforme amadurece, Marcielle vê ruírem muitas das suas idealizações e se percebe presa entre dois ambientes abusivos. Ciente de que o futuro não reserva muitas opções a ela, a garota decide confrontar a engrenagem violenta que rege a sua família e as mulheres da sua comunidade. Vencedor do prêmio de melhor direção da Jornada dos Autores do Festival de Veneza.
Comentário: Manas nos coloca na perspectiva de Marcielle, ou Tielle como é chamada, uma menina de 13 anos que se vê sem alternativa. De família ribeirinha, a única forma de conseguir algum dinheiro extra e indo até os navios que passam em Marajó a caminho de Manaus. É possível vender para os marinheiros os frutos de suas coletas, como açaí ou camarão. Mas muitas das meninas também se prostituem nesses barcos. Em casa, sua mãe está com uma gestação avançada. A rede de Tielle aparece com o punho arrebentado e assim ela passa a ter que dormir com o pai, que também começa a levá-la consigo, sozinha, em suas saídas para caçar. É angustiante ver o quão encurralada a menina está. Ela tenta exercer a sua agência, mas sua falta de experiência de vida e de oportunidades são uma barreira. A personagem não só lida com questões de gênero e classe, mas está envolta em uma estrutura de abusos que antecede sua própria existência, que é normalizada socialmente e agora é complexificada pela religião. Jamilli Correa, em seu primeiro papel como atriz, carrega o filme em seu olhar. Dira Paes está ótima como sempre. A direção de Marianna Brennand, em seu primeiro trabalho de ficção, consegue construir uma tensão que é absolutamente sufocante.