Cinema,  Críticas e indicações,  Filmes

[48ª Mostra de São Paulo] Vermiglio

Este texto faz parte da cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro. Publicado originalmente na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui.

Vermiglio (Itália, França, Bélgica, 2024, Ficção, cor, 119 min)

Direção: Maura Delpero

Sinopse: Em Vermiglio, uma aldeia no alto dos Alpes italianos, a guerra surge durante o ano de 1944 como uma ameaça distante, porém, bastante presente. A chegada de Pietro, um soldado desertor, transforma a dinâmica familiar do professor local, mudando-a para sempre. Durante as quatro estações que marcam o final da Segunda Guerra Mundial, Pietro e Lúcia, a filha mais velha do docente, se apaixonam de maneira arrebatadora, o que desencadeia consequências inesperadas. À medida que o mundo ressurge da tragédia, a família começa a enfrentar a própria ruína. Vencedor do grande prêmio do júri no Festival de Veneza.

Comentário: Vermiglio é um local tão isolado geograficamente que os modos de vida e trajar parecem mais antigos do que aqueles de 1944. Os longos vestidos cobertos por aventais, os lenços na cabeça, tudo indica um lugar rural de um passado ainda anterior. Quando se fala em guerra, à princípio paira a dúvida de qual guerra seria.

O professor ensina as letras para as crianças e, aos sábados, para os homens rústicos do lugar. Mas mesmo ele não foge de uma realidade de pobreza e falta de acesso. São 5 filhos e 3 filhas para criar a alimentar, em uma escadinha que vai até o bebê recém-nascido. As crianças e adolescentes se empilham em camas compartilhadas no mesmo quarto, sem espaço para privacidade.

Nesse lugar em que provavelmente nada muda por décadas, a chegada de um soldado é uma novidade. Discute-se a guerra, o papel dos jovens, a moralidade da deserção. Mas diante da falta de recursos, a posição das mulheres é sempre mais periclitante. O pai chega em casa do trabalho e ouve música, fuma, senta-se em uma poltrona. As mulheres nunca param. 

Casamento, maternidade, trabalho na cidade, trabalho em casa e acesso a estudo são todos elementos apresentados para as jovens protagonistas, mas são todos excludentes. As meninas se ajudam e sabem que não há outro caminho a não ser essa parceria, em oposição a certas tradições. O filme é um daqueles dramas de época com bom valor de produção, temas fortes e bonito de ver. 

Compartilhe
Share

Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *