[49ª Mostra de São Paulo] Duas Estações, Dois Desconhecidos
Esse texto faz parte da cobertura da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 16 e 30 de outubro.
Escrito e dirigido por Sho Miyake, adaptado dos mangás de Yoshiharu Tsuge, é possível que algo tenha se perdido na tradução entre o texto daqueles e a transposição para o audiovisual em Duas Estações, Dois Desconhecidos (Two Seasons, Two Strangers). O filme abre escancarando o dispositivo narrativo: uma mão rabisca com um lápis em um caderno o começo do roteiro: verão, interior de um carro, uma jovem acorda no banco de trás. Em seguida vemos isso ser encenado.
A primeira metade do filme trata dessa personagem, que visita uma cidade litorânea, entabulando uma amizade com um outro jovem. Sua curta convivência, de dois dias, é marcada por muitos silêncios e conversas sobre o próprio tédio e o nada.
É quando percebemos que trata-se de uma projeção do filme realizado com o roteiro que estava sendo redigido na abertura, visto em uma universidade, onde é debatido por professores e alunos. A roteirista, Lee (Shim Eun-kyung), uma mulher de pouquíssimas palavras, claramente não ficou satisfeita nem com seu trabalho nem com a transposição dele para a tela. O estranho é que o que assistimos é a esse mesmo filme tímido e hesitante como filme dentro do filme.
E como solução apresentada para soltar sua escrita para um próximo trabalho, sugerem que viaje em busca de novos ares e inspiração. Sem reservar nenhum hotel, ela resolve ir para uma região de montanhas aproveitar a neve e descobre que não há vaga em lugar algum. De improviso se hospeda na casa de um senhor cuja família toda o deixou. Ele mantém uma hospedaria há muito sem hóspedes. Esse encontro rende interações minimalistas entre os personagens, pequenas fagulhas de interesse sobre a vida um do outro.
Algumas narrativas têm desenvolvimento lento, mas compensam na atmosfera ou na construção das personagens. Vencedor do Leopardo de Ouro no Festival de Locarno, Duas Estações, Dois Desconhecidos entrega fragmentos de trama e uma protagonista que reage minimamente aos eventos ao seu redor, frustrando quem espera algo mais coeso.


Essa cobertura foi possível graças ao nosso financiamento coletivo. Agradecemos em especial a: Carlos Henrique Penteado, Gizelle Barros Costa Iida, Helga Dornelas, Henrique Barbosa, João Bosco Soares, Janice Eleotéreo, José Gabriel Faria Braga de Carvalho, José Ivan dos Santos Filho, Lorena Dourado Oliveira, Lucas Ferraroni, Marden Machado, Mariana Silveira, Nayara Lopes, Patrícia de Souza Borges, Pedro Dal Bó, Vinicius Mendes da Cunha, Waldemar Dalenogare Neto, Zelia Camila de O. Saldanha


