Cinema,  Críticas e indicações,  Filmes

[49ª Mostra de São Paulo] Satisfação

Este texto faz parte da cobertura da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 16 e 30 de outubro.


Satisfação (2025) é um filme sobre os silêncios e a falta de cor na vida de quem vive um relacionamento abusivo. A diretora e roteirista Alex Burunova transforma a divisão do mundo antes e depois de um evento traumático em um punhado de contradições visuais. A Grécia alegre e vibrante que conhecemos é, aqui, uma prisão para a protagonista, Lola (Emma Laird), uma musicista promissora que abandona o ofício para viver em uma quietude sufocante.

O mundo continua acontecendo do lado de fora, mas ela se vê em uma inércia permanente. Burunova não se prende ao idílico das paisagens nem às metáforas visuais para abordar um tema tão delicado. O mundo de Lola vai dos barulhos e da calidez de Londres para uma ilha grega monocromática. Tudo é cinza, inclusive a própria personagem, que chega a parecer um objeto da casa, pronta para servir o artista medíocre – mas com contatos – com quem divide a vida.

Não que ela não una esses elementos, mas, quando o faz, há uma carga narrativa que vem antes. Um exemplo disso é a repetição de cenas de ondas batendo nas pedras que, a cada vez que aparecem, parecem uma extensão das respostas que o corpo e a mente de Lola dão ao episódio que mudou tudo para ela.

Em seu primeiro longa de ficção, Burunova aborda com delicadeza um tema tão pesado quanto o abuso sexual. Ela consegue driblar os vícios comuns na representação desse tipo de violência no cinema. Mais que isso, respeita a história que está sendo contada na tela, dando espaço para que Lola seja a agente de mudança de sua própria trajetória, mesmo que sua liberdade e os sons que tanto ama (e sabe criar) sejam silenciados.


Essa cobertura foi possível graças ao nosso financiamento coletivo. Agradecemos em especial a: Carlos Henrique Penteado, Gizelle Barros Costa Iida, Helga Dornelas, Henrique Barbosa, João Bosco Soares, Janice Eleotéreo, José Gabriel Faria Braga de Carvalho, José Ivan dos Santos Filho, Lorena Dourado Oliveira, Lucas Ferraroni, Mariana Silveira, Patrícia de Souza Borges, Pedro Dal Bó, Vinicius Mendes da Cunha, Waldemar Dalenogare Neto, Zelia Camila de O. Saldanha, Nayara Lopes.

Crítica de cinema, membra da Abraccine, amazonense, 30+, ama novela mexicana

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *