Críticas e indicações,  Seriados

A Idade Dourada (Gilded Age)

Pra quem gosta de filme ou série de época, como eu, tem novidade boa: Julian Fellowes está lançando A Idade Dourada (The Gilded Age) pela HBO Max. Se o nome do autor não despertou nenhuma memória, ele é oscarizado pelo roteiro de Assassinato em Gosford Park (Gosford Park, 2001), o whodunit do Robert Altman, e também roteirizou o Feira das Vaidades (Fanity Fair, 2004), protagonizado pela Reese Witherspoon e dirigido pela Mira Nair; e A Jovem Rainha Vitória (The Young Victoria, 2009), do Jean-Marc Valleé com a Emily Blunt. Mas talvez seu trabalho mais conhecido seja Downton Abbey (2010-2015), seriado que se passava na década de 1920 e acompanhava gerações da família Crowley, do condado de Grantham e, portanto, da nobreza britânica, que criou e roteirizou. Até a Dilma (“tchick-tchick-tchick”) assistia e tomou spoiler, lembra?

Elenco de Downton Abbey, seriado que durou seis temporadas e um filme (perfeita para Abed de Community)

Com esse currículo percebe-se que Fellowes tem um apreço por explorar as relações de classe, especialmente entre a nobreza e sua criadagem (upstairs downstairs, como diriam os britânicos). Mas seu fascínio mesmo fica com os primeiros e quem acompanhou Downton Abbey sabe que ele tem uma tendência a tratá-los como pessoas bem informadas, progressistas, que merecidamente tutelam aqueles que não são nobres. A criadagem, essa sim reacionária, seria a real mantenedora do status quo (RISOS). Ele também gosta de ter como protagonistas mocinhas que desafiam moderadamente o bom tom do presente da narrativa, até o limite de não ultrapassar o de hoje. Assim foram as filhas dos Crowley ao longo da série. 

Marian e Peggy

Com todos esses avisos, chegamos a A Idade Dourada, que dessa vez se passa no fim do século XIX nos Estados Unidos. Sai a nobreza e a disputa em questão é entre dinheiro antigo e dinheiro novo (o que é uma loucura: não seria tudo dinheiro novo em um território de colonização recente?). A mocinha é Marian (interpretada por Louisa Jacobson, filha da Meryl Streep em seu primeiro papel), órfã sem um centavo que vai morar com as tias ricas, Agnes (Christine Baranski) e Ada (Cynthia Nixon) em Nova York e se opõe às suas ideias conservadoras, mas está feliz com sua nova situação financeira.

As tias Ada e Agnes

Já a vizinha da frente, Bertha (Carrie Coon), nouveau riche, quer comprar seu espaço na sociedade e é antagonizada pela tia Agnes. Sua filha, Gladys (Taissa Farmiga, a irmã mais jovem da Vera), por sua vez, faz amizade com Marian. Para fechar o grupo de protagonistas, temos Peggy (Denée Benton) uma jovem negra que deseja ser escritora e que conheceu Marian na viagem para Nova York. Fica subentendido que sua família tem posses e seu pai não concorda com sua escolha de carreira, e por isso evita voltar para casa e acaba contratada como secretária de tia Agnes (que, veja bem, é conservadora mas não é racista (RISOS).

Gladys e Bertha

Até agora só saíram 3 episódios da série e serão, à princípio, 10 (prevejo uma renovação fácil). Falando do jeito que escrevi, parece que não gosto do material, mas a ideia dessa indicação é frisar que não se trata de nada exatamente revolucionário. Fellowes gosta de seus aristocratas e ricos e vai defendê-los. Mas é um belo drama de época com bom valor de produção, diálogos certeiros, embates intensos, figurino deslumbrante e muitas atrizes sensacionais. Então pra quem quer um NOVELÃO (especialmente se já gostava de Downton), vale demais. Por enquanto eu estou dentro. 😉

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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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