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Aos Treze (2003)

Aos Treze (Thirteen, 2003) é o primeiro filme da diretora Catherine Hardwicke. A protagonista é a Tracy, também o primeiro papel de protagonista com destaque da Evan Rachel Wood. Ela é uma menina de 13 anos que começa a deixar suas amigas de lado para andar com uma outra menina popular da escola, a Evie (que é interpretada pela Nikki Reed, que escreveu o roteiro junto com a diretora). À partir daí começam uma série de mudanças de comportamento, do modo de vestir até a relação com a mãe, vivida pela Holly Hunter (que foi indicada ao Oscar pelo papel) passando por sexo e drogas.

Eu vi o filme na época em que foi lançado e lembro de ser muito comentado. Ele estreou em dezebro de 2003, mas só vi em fita em 2004, então eu tinha 18, talvez 19 anos. Nessa época já tinha saído da casa dos meus pais, mas ainda estava em uma fase de querer descobrir quem eu era, me afirmar como indivíduo, então, apesar da idade mais velha que as protagonistas, ainda se estabelecia uma certa identificação. Mesmo assim lembro de ter achado meio exagerado. Revendo agora quase 20 anos depois não achei tão pesado nos temas que aborda, mas com outra perspectiva em relação à idade, achei as meninas muito novas.

É interessante reparar na linguagem videoclíptica, que tinha muito a ver com o que se fazia na época. A câmera na mão, tremida, que nas cenas tensas se inclina, balança, me fez pensar naqueles reality shows que existiam na MTV na época. E no momento de maior crise da Tracy tudo fica dessaturado e a cor some do filme, voltando no final volta, de forma a indicar que as coisas vão voltar a ser o que eram.

É curioso que em tramas de filme de adolescente haja uma constante que é o fato de a menina deixar de andar com as amigas para andar com a garota popular da escola, dos filmes mais bobinhos, como Nunca fui Beijada e Meninas Malvadas, aos mais pesados, como o Respire. Também existe uma diferença entre o tipo de feminilidade mais reclusa e frágil de Virgens Suicidas, da Sofia Coppola, e essa aqui.

Por isso a cena em que as duas personagens trocam socos é muito significativa: elas não sentem nada fisicamente porque se drogaram, mas também não sentem nada emocionalmente. Literalmente estão se batendo para tentar sentir algo. 

Sobre a Catherine Hardwick: hoje ela dá entrevistas em vários veículos e documentários para falar sobre sua experiência dirigindo Crepúsculo em 2008. O orçamento do filme era 37 milhões e arrecadou mais de 400 milhões, ou seja, um sucesso estrondoso em termos financeiros. E era uma franquia que era vendida como sendo para meninas adolescentes, ou seja, se valia da experiência dela com o tema. Foi o início da onda de adaptações de livros YA (jovens adultos). Com o sucesso, ela foi afastada da direção dos outros filmes, que foram todos dirigidos por homens e como o filme foi considerado ruim, ela também teve dificuldades de conseguir arrumar outros trabalhos. Em uma entrevista para a Vanity Fair ela diz “depois de Crepúsculo, vieram mais 4 filmes da franquia, 3 Divergentes, 4 Jogos Vorazes, e nenhum deles foi dirigido por uma mulher. Isso partiu meu coração”. Quantos diretores de filmes “ruins” de franquias, com bom desempenho comercial, não são premiados com mais trabalhos bem remunerados em filmes ruins de franquias?


Texto adaptado do roteiro da minha fala no podcast Feito por Elas #99 Aos Treze

Selo "Approved Bechdel Wallace Test"
Nota: 3 de 5 estrelas
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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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