Aqui (Here, 2024)
Adaptação do quadrinho Aqui (Here), de Richard McGuire, o filme de mesmo nome, dirigido por Robert Zemeckis, traz diferentes pessoas de várias gerações morando em um mesmo espaço, mas em diferentes tempos, da antiguidade passando por todo o século 20 até os dias de hoje. O protagonista É Richard Young, interpretado por Tom Hanks. O local onde a história se passa em algum momento vem a ser a casa de seus pais, e então o lugar onde passou boa parte de sua vida, incluindo aquela que compartilhou com Margaret (Robin Wright), sua namorada e depois esposa.
Primeiro devo dizer que eu gostei muito da ideia da câmera sempre parada no mesmo lugar e a forma como épocas diferentes se sobrepõem em quadrinhos. Talvez possa ser considerado uma trucagem meio barata, mas… gostei. Achei até esteticamente interessante. Eu vi várias pessoas aqui no letterboxd falando que trata-se é um filme boome“, mas não é exatamente essa a sensação que eu tenho. É um filme sobre o sonho traído da classe média (e isso pode ou não ser algo boomer). Geração após geração tentando e fracassando, numa eterna constatação de que poderia ser pior, mas ao mesmo tempo sem conseguir avançar muito.
É cafona, cafoníssimo, sim. Mas acho que é curioso ver como os diretores de uma certa geração estão pensando no fim dela e no seu legado. Só nesse ano Almodóvar, Coppola e agora Zemeckis. Reflexões sobre vida e finitude. E a vida tem coisas que são meio universais: a conexão e a perda, expectativas e frustrações, escolhas e erros. Muitas vezes nos definimos por aquilo que não deveria ser o principal. E não percebemos momentos na hora, tomamos como garantido. Porque no final não é uma narrativa sobre um passado idealizado, é exatamente o oposto. O tempo passa, a vida acontece nas frestas.
Zemeckis é realmente o mais cafona dos três mencionados (e olha que estou falando do maximalismo de Coppola e do melodrama de Almodovar). Mas talvez justamente porque seu filme gira em torno da banalidade inescapável da passagem do tempo e da rotina nos pequenos detalhes, funcione tão bem como retrato intergeracional de múltiplas ausências.