• Críticas e indicações,  Discos

    Lhasa de Sela (1972-2010)

    Nascida em Nova York, filha de um professor mexicano e de uma fotógrafa americana, Lhasa de Sela (1972-2010) teve uma infância bastante nômade e uma vida adulta no Canadá – suas canções em inglês, espanhol e francês refletem essas vivências. A cantora gravou três álbuns de estúdio, La Llorona (1997), The Living Road (2003) e o homônimo Lhasa (2009), lançado meses antes de sua morte aos 37, na virada do ano, após lutar contra um câncer de mama. Estou muito impactada pela “coincidência” que me levou a esse álbum: vou lembrar por um bom tempo do pole dance caseiro e efêmero da Clara Averbuck ao som de ‘Love Came Here’,…

  • Críticas e indicações,  Filmes

    MS Slavic 7 (2019)

    Mais uma parceria entre Sofia Bohdanowicz e Deragh Campbell (atriz e co-diretora), o semi ficcional MS Slavic 7 (2019) acompanha a descoberta de correspondências muito poéticas (e reais!) enviadas pela bisavó da cineasta, Zofia Bohdanowiczowa, ao poeta polaco Józef Wittlin entre 1957-1964. Bela e contemplativa percepção de tensões familiares e luta discreta por espaço e direito, além de um estudo inspirado sobre o significado do gênero carta e sua viagem de passarinho para suprir um desejo intenso por comunicação – e conexão, o qual a protagonista vivencia em sua busca solitária. 

  • Críticas e indicações,  Discos

    All Mirrors, de Angel Olsen

    Pra quem não conhece ainda, fica a dica para ouvir o excelente All Mirrors (2019), quarto – e melhor – álbum da cantora, guitarrista e compositora norte americana Angel Olsen. A moça faz juz ao nome com sua voz rouca angelical, mas bem versátil, cítrica em alguns momentos, combinando com o instrumental indie folk orquestrado. Recomendo especialmente as faixas Impasse, Tonight, Summer e Endgame, ato final em que a melancolia e a vibe lynchiana Twin Peaks crescem e atingem o ápice. 

  • Críticas e indicações,  Filmes

    Olla, de Ariane Labed

    Com clara influência do longa Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975), da diretora Chantal Akerman, Olla (2019) é a estreia bem sucedida da atriz francesa Ariane Labed (A Lagosta) atrás das câmeras. O trocadilho com o nome que ela recebe ao chegar, ao menos no Brasil permite uma associação erótica, uma das facetas bem trabalhadas na protagonista Olla (Romanna Lobach), que deixa a Ucrânia e vai para a França morar com Pierre, que ela conheceu pela internet e que vive com a mãe idosa. O curta de 27 minutos não brinca apenas com as discrepâncias da linguagem, mas com expectativas masculinas, direitos e desejos femininos, tantas vezes agredidos e silenciados. Destaque para…

  • Críticas e indicações,  Filmes

    INDIANARA

    Indianara (2019), de Aude Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa, longa candidato à Palma Queer ano passado em Cannes e que hoje estreia por aqui, é um registro audiovisual poderoso e importante de momentos históricos atuais do Brasil e da luta de pessoas trans pela liberdade de existir e de ocupar espaços. Sem intermédio de legendas ou […] https://stephaniaamaral.wordpress.com/2020/06/25/indianara/...

  • Críticas e indicações,  Livros

    Alerta Selvagem, de Susy Freitas

    Finalmente comprei meu exemplar do Alerta Selvagem (Editora Patuá), livro de poesia da jornalista, professora, Elvira (e amiga!) amazonense Susy Freitas. Os poemas começam intimistas, no “quarto em que dorme o inesperado” (‘o amigo’), o convite para beber (‘aprendizagem’/’beba’), ao que passam para alteridade dos “territórios percorridos nos sonhos dos outros” (‘aberta’). A carreira como crítica da autora é referenciada (‘cinema’ e ‘mise en abyme’), ela comenta sobre o vazio existencial virtual (‘a entertainer definitiva’), “ninguém nunca vai saber que horas você foi dormir” (‘pobre menina’), e o livro termina com seu caráter político acentuado, da crítica social ao pedigree gourmetizado (‘condomínio’) até a folia final “nas noites ébrias…incerteza nos corpos”…

  • Críticas e indicações,  Discos

    Flaira Ferro Virada na Jiraya

    As letras (que cutucam feridas certeiras) e as variações da voz de Flaira Ferro fazem ‘Virada na Jiraya‘ (2019) um disco extremamente autêntico. A cantora recifense homenageia suas antepassadas em ‘Faminta’, faz um coro feminino necessário com Sofia Freire, Ylana e Isaar em ‘Germinar’ (“dentro de nós acumulamos pesos cruéis”), entre violinos e batucadas condizentes com o poder da faixa. Apesar da insistência em melodias alegres, pois “uma cidade triste é fácil ser manipulada”, ela valoriza culturas e o que mais precisamos nesse momento, ‘Estudantes’ (“mesmo que o destino reserve um presidente adoecido e sem amor”). ‘Revólver’ (“no contra ataque da guerra: arte!”) lembra que “o frevo é o nosso…

  • Críticas e indicações,  Seriados

    Eu nunca…

    Ao invés de colocar as demais séries em dia ou assistir algo das mil listas que faço, acabei pagando língua ao ver numa tacada só um seriado adolescente, que costumo ter preguiça (com exceção de Sex Education). Das criadoras Mindy Kaling e Lang Fisher, Eu Nunca…, disponível na Netflix, trata dos conflitos típicos de uma garotinha no ensino médio, mas rompe certos clichês e tem o diferencial de trazer elementos da cultura indiana e muitos personagens de diversas etnias, ainda que todos extremamente cheios da grana e outros com subjetividade pouco aprofundada, como as melhores amigas de Devi, Fabiola e Eleanor. Cômica e dramática em doses bem calculadas, passam rápido os 10…

  • Discos

    Fiona Apple, Fetch The Bolt Cutters

    Após oito anos, Fiona Apple volta com o visceral Fetch The Bolt Cutters. A bateria está mais presente aqui do que em qualquer outro trabalho anterior, tantas vezes se sobressaindo ao piano, ainda marcante como na introdutória I Want You To Love Me. Ela não perde a profundidade ao lidar com seus demônios de forma mais esportiva (Relay), ou mais leve, em montanhas russas entre o zen e o catártico (Rack of His). O clima é intimista, e como se abrisse a porta de sua casa, Fiona mantém palavrões, gemidos, barulhos de coisas caindo e latidos de sua cachorra (especialmente na faixa título), a voz de sua irmã enquanto amamenta (Newspaper, pra mim a…

  • Críticas e indicações,  Livros

    Quarenta dias, de Maria Valéria Rezende

    Sugestivo nome de livro pra ler na quarentena, não é mesmo? Mas Quarenta dias, da escritora (e freira!) Maria Valéria Rezende, já estava em meus planos de leitura antes mesmo deste caos pandêmico começar… A narradora-protagonista ora refere-se a si mesma como professora Póli, ora como Alice, durante seu percurso nômade em busca do desconhecido Cícero (seu Cheshire), o que ela mesma admite ser um pretexto para flanar e se perder por aí. Fugindo de uma condição imposta pela filha, ela acumula folhetos (estampados nas páginas formando uma trilha ilusória de pistas) e guardanapos com citações, palavras estas roubadas de sebos e livrarias, e sente na pele a invisibilidade e traços…