BOOK Club
O que acontece quando quatro mulheres inteligentes e bem sucedidas decidem incluir os best sellers de E.L James em seu clube de leitura? Esta é a premissa de O que elas querem, estrelando as divinas divas Jane Fonda (de Barbarella a Grace e Frankie S2) Diane Keaton (eterna Annie Hall?) e as menos conhecidas Candice Bergen – indicada ao Oscar por um Encontros e Desencontros de 1979 que não é o da Sofia Coppola – e Mary Steenburgen (Um Século em 43 Minutos, também de 1979).
Com roteiro co-escrito pela Erin Simms, apesar de ser mais uma comédia romântica extremamente branca e heteronormativa, o longa tem justamente o mérito de englobar uma faixa-etária ainda pouco e porcamente representada, os 60 anos, a terceira idade, ainda que se esquive de mostrar detalhes, causa risadas sem ofender ninguém.
A dinâmica entre as quatro amigas é infalível para reconfigurar o padrão Sex and the city de suposta diversidade e representação dos dilemas femininos. Da inicial repugnância pelos massificados volumes – “Isso nem é literatura”, melhor fingir estar lendo Moby Dick do que enfrentar o constrangimento de ler em público! – a série acaba por deixá-las fascinadas pelo perigosíssimo ficcional Christian Gray, e as impulsiona a retomar antigos amores, buscar encontros no Tinder, atrair pilotos particulares e até ajuda na difícil tarefa de reavivar o casamento e não sublimá-lo com fones de ouvido anti-ronco. Aqui, só pra variar, os machos ficam apagados diante da presença dessas mulheres.
Altamente influenciável pelo escurinho do cinema, perdoo até as sempre horríveis montagens de fotos de família, pois o longa vale a pena pela Fonda toda vestida de oncinha que joga a moeda na fonte pedindo um planeta saudável; pela juíza glamourosa de volta à night e corrige a citação de Shakespeare do ex-marido; pela piada com A Caverna dos Sonhos Esquecidos, do Herzog; pelas associações sexuais enunciadas pelo marido inocente ao falar de suas ferramentas… Um filme mais sobre conhecer a si mesma do que sobre se relacionar, sobre erguer taças e apoiar as confidentes sem disputas em amizades até irreais de tão estáveis.
Tudo bem envelhecer. Tudo bem ser amado e feliz, mas Book Club não precisava de nenhum dos clichés, como a roupa comportada da ‘megera domada’ redimida pelo amor no ato final. Brilharia ainda mais se a chef pudesse dançar sozinha, se a juíza continuasse feliz com sua gata letárgica, se a dona do hotel continuasse aproveitando a vista da sua cadeira. A vida não costuma tocar a música que ensaiamos pra sapatear. Mas mesmo com o beijo hollywoodiano, o desfecho de Keaton, a viúva de cabelos assumidamente brancos, não poderia ser melhor, fugindo das filhas desvairadas (Alicia Silverstone, saudade!) para se entregar a uma nova paixão – que não tem obrigação nenhuma de ser eterna.
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