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Entrevista | Rose Byrne, de Se Eu Tivesse Pernas, Eu Te Chutaria

Linda (Rose Byrne) coleciona momentos de caos em Se Eu Tivesse Pernas, Eu Te Chutaria (If I Had Legs, I’d Kick You, 2025). Sozinha com uma filha que exige cuidados, ela precisa abandonar uma casa que está literalmente desabando, se mudar temporariamente para um hotel de beira de estrada, tudo isso enquanto lida com uma crise no trabalho. Em seu segundo longa de ficção, a diretora Mary Bronstein acentua o isolamento de Linda e a necessidade de conexão da protagonista ao colocá-la sozinha em cena durante os conflitos familiares e em rota de colisão com os poucos personagens com quem interage.

Pelo trabalho, a atriz Rose Byrne venceu o Urso de Prata no Festival de Berlim, ganhou os prêmios da crítica de Nova York e Los Angeles e está indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Comédia ou Musical. A Camila Henriques conversou com a atriz australiana sobre o filme, que entra em cartaz nos cinemas brasileiros no dia 1o de janeiro. O papo está disponível no nosso canal do YouTube.

Abaixo, a transcrição:

Camila Henriques: Gostaria de começar falando sobre a sua preparação para o papel, porque você e a Mary Bronstein são mães, e li que isso foi uma parte muito importante do processo, das conversas. Queria saber de que forma isso moldou a colaboração entre vocês duas.

Rose Byrne: Tivemos muita sorte de ganhar um período de ensaios, só nós duas, por cinco ou seis semanas. Nós sentávamos na cozinha dela, três vezes por semana, apenas conversando e discutindo o roteiro, página a página, diálogo por diálogo. Trocamos histórias. Fomos muito abertas uma com a outra e tivemos tempo para entender como seria o filme. E, claro, você não quer ver o “dever de casa” de um ator – isso é entediante -, mas quer que tudo soe vivido na tela. E, olha, eu não consigo saber como vai ser minha atuação antes de estar no set. Eu preciso estar presente, no momento, reagindo. Mas esse tempo precioso que eu e a Mary tivemos juntas foi fundamental. Sem isso, eu teria me sentido muito insegura, porque filmamos o longa em 25 dias, foi tudo muito rápido. E a personagem é o filme, o filme é a personagem. Eu nunca tinha feito nada parecido com isso antes.

Camila: O filme trabalha com espaços físicos que nos colocam no caos da personagem. Como você trabalhou com esses elementos, especialmente considerando que você está sozinha a maior parte do tempo, com o marido ausente e a criança sempre fora de quadro?

Rose: Bem, Delainey Quinn é a atriz adorável que interpreta a filha da Linda. Com ela, foi um processo bem típico, de troca mesmo. Ela estava no set, e a presença dela informava completamente as ações da Linda. Parecia uma cena normal, e aí, assistindo ao filme – e eu obviamente sabia que ela não apareceria -, há um impacto grande nessa ausência e como isso afeta a experiência do filme. Mas, enquanto fazíamos, foi tudo muito natural. A gente sequer falou sobre isso. Parecia que o [diretor de fotografia] Christopher Messina e a Mary Bronstein já tinham tudo bem resolvido, que, quando estávamos filmando, não foi algo que interferiu no trabalho que estávamos fazendo.

Camila: Como foi a troca com o Christian Slater, quando ele chegou ao set?

Rose: Foi ótimo. É realmente a voz dele nas ligações por telefone. Todas as chamadas que ela faz… E isso é muito difícil de fazer em cena. Fazer uma cena ao telefone é complicado; é uma daquelas coisas que você só percebe quando está fazendo. No fim das contas, é mais uma cena que você está atuando e, sem o outro ator do outro lado da linha, tudo fica completamente sem vida. Por isso, eu e Mary insistimos em ter Christian e foi ótimo, porque ele tem uma voz tão icônica que você ouve e pergunta “quem é essa pessoa?”. Eu cresci [com essa voz]. Ele era um astro adolescente quando eu era adolescente, e eu o amava quando era jovem. Foi bem surreal, mas acho que acrescentou essa qualidade misteriosa e, ao mesmo tempo, familiar à voz do marido.

Camila:  Neste ano vimos filmes como Morra, Amor (Die My Love, 2025) e Hamnet (2025), dirigidos por mulheres e com visões muito interessantes e nada romantizadas sobre o tema da maternidade. Como Se Eu Tivesse Pernas, Te Chutaria entra na conversa, especialmente num contexto em que também vemos abordagens novas e instigantes sobre a maternidade na TV, algo que você mesma já explorou?

Rose: Sim, eu tive muita sorte de explorar esse tema de formas diferentes com Physical e Amor Platônico. Com algo como Hamnet, que é muito diferente de Se Eu Tivesse Pernas, que é muito diferente de Morra, Amor, é muito bom ver que nós não somos um monolito, não somos todas iguais. Acho que isso também fala de uma espécie de consciência coletiva. Dá para perceber isso numa temporada de filmes. De repente, surgem dois filmes sobre a Marilyn Monroe, ou dois sobre outra pessoa, dois sobre Bob Dylan, seja quem for. Parece que existe esse movimento subconsciente, em que as pessoas passam a gerar histórias ao mesmo tempo e, querendo ou não, acabam na mesma sintonia criativa. E isso é algo muito especial. Fico honrada de fazer parte desse momento, desse tipo de tríptico que está se formando.


Se Eu Tivesse Pernas, Eu Te Chutaria estreia no Brasil em 1º de janeiro.


Agradeço à Synapse pela oportunidade de entrevista, realizada em ambiente virtual e editada visando melhor clareza

Crítica de cinema, membra da Abraccine, amazonense, 30+, ama novela mexicana

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