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Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado (2025)

Que Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado nasceu nos anos 90 pegando carona com o sucesso e as ideias de Pânico, todo mundo já sabe. Talvez só não fosse tão fácil prever que a franquia seguiria a mesma onda a vida inteira. Até que demorou, mas três anos depois de reviverem a franquia de Wes Craven, agora sem o ícone e sua genialidade, a prima com menos talento fez o mesmo. O histórico das duas é totalmente diferente, enquanto Eu Sei… teve uma sequência bem esquisita, com uma recepção à altura, e um terceiro capítulo quase bastardo na família, lançado direto em DVD e sem o elenco original, Pânico foi um sucesso sólido, com personagens tão marcantes quanto. Já o retorno de ambas franquias tem mais em comum do que parece.

Em 2025, Jennifer Kaytin Robinson assume a direção da nova versão, que também é uma sequência, de Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado. A diretora com pouca experiência no cinema, e nenhuma na direção de filmes de terror, vem de uma intimidade boa com o público jovem. Com Alguém Especial (Someone Great, 2019), comédia romântica e o simpático Justiceiras (Do Revenge, 2022), cheio de reviravoltas entre a comédia e o suspense, a cineasta já mostrava algum apego a uma certa nostalgia, tentando transformar suas referências em uma versão contemporânea e fresca. 

Em Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado (I Know What You Did Last Summer, 2025), é esse esforço que não ajuda nem um pouco o filme. Assim como outras franquias e obras de sucesso que retornaram com novas versões recentemente, o longa de Kaytin Robinson sofre do mesmo mal. Em uma tentativa desesperada de se comunicar com um público jovem e extremamente conectado, não é apenas o roteiro de Eu Sei… que parece um monte de bobagens empilhadas e geradas sem o mínimo de autenticidade. Além do que dizem, com referências a memes, frases de efeito e tudo que é um produto dos últimos anos, canecas de lágrimas do patriarcado e a artificialidade de tempos em que todo mundo faz os mesmo procedimentos estéticos se somam a uma lista de coisas que nos fazem questionar quão rapidamente esse filme vai envelhecer e azedar.

O retorno a Southport em 2025 vem com uma drástica mudança de ares. O lugar, antes retratado nos anos 90 como uma vila de pescadores, possuía personagens jovens preocupados com seus futuros. Apenas um dos garotos do grupo vinha de família rica, enquanto o restante vislumbrava um futuro em faculdades longe dali. A garota popular vivida por Sarah Michelle Gellar enfrenta até mesmo uma frustração por não ter conseguido vencer na cidade grande, retornando ao pacato local. 

Mas, agora, Southport é uma cidade rica e cheia de mansões, com barcos de luxo no porto e carrões nas garagens. O grupinho envolvido no crime da vez leva vidas ótimas, bem iluminadas, com roupas caras e nenhuma preocupação com o que está por vir. É a reputação, então, desses herdeiros, que fica em jogo. Assim, a limpeza do acontecimento é política e o arrependimento que corroeu Jennifer Love Hewitt em 1997 agora é canalizado para aventuras sexuais, meditações e fetiches, sem grandes aprofundamentos. Tudo parece mais raso e vazio e, como a maioria das obras que voltam à vida em nome dos lucros da nostalgia, Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado parece puramente existir para cumprir sua função exata, vender novamente o nome, trazendo de volta atores importantes da época e diversos acenos ao filme original para isso.

Com uma motivação tão sem graça, Kaytin Robinson não consegue extrair nada de melhor de seus personagens tolos ou de sua história fracamente escorada no passado, a diretora também pouco imprime personalidade ao filme, operando como realizadora protocolar. Ava (Chase Sui Wonders) passa boa parte do tempo levando sua atuação a sério demais para as presepadas que acontecem em cena, Danica (Madelyn Cline) é o resultado perfeito do que aconteceria se uma inteligência artificial vomitasse depois de consumir o conteúdo de 50 influenciadoras digitais sem parar, e os personagens masculinos pouco valem ser comentados. 

Enquanto Ava serve como conexão com Julie, Stevie (Sarah Pidgeon) vem como lembrança a Ray (Freddie Prinze Jr.), a menina mais pobre do grupo e com mais questões do passado citadas. Essas ligações não são nada sutis, com as duplas bem destacadas nas cenas e nas interações, o que torna a revelação de Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado ainda mais óbvia. É claro que neste filme descobrir quem é o pescador psicopata se torna um elemento mais importante do que fora antes na franquia, a lógica dessa vez é muito mais próxima de Pânico do que dos filmes anteriores, mas talvez só aquele grupinho mesmo acredite que o mistério que eles enfrentam é realmente tão elaborado assim.

Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado vem dessa maldição dos remakes que acham que fazer piada de si mesmos e ser autoconsciente é o suficiente para não fazer papel de besta no cinema, não é preciso uma boa história ou qualquer coisa que o seja, só jogar várias referências ao passado e pincelar frases sobre nostalgia no roteiro. Algumas cenas gritam certa importância, colocando as aparições de personagens como se fossem o retorno do maior núcleo já visto, dentro do filme de horror mais amado dos anos 90, enquanto outras berram que tudo aquilo é só uma galhofa bastante contemporânea, de skincare por cima das lágrimas a sereias da vida real.

Como terror que não fisga, a graça de Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado está em rir das situações que geram vergonha e pensar como será assistir a esse filme 30 anos depois. Será que essas bobagens de hoje, produto de uma nostalgia comercial forçada, vão fazer algum sentido no futuro? Difícil dizer, mas a certeza é de que haverá uma cena pós-créditos garantido mais uma sequência até o público finalmente se saturar.

Crítica de Cinema e formada em Rádio e TV. Apaixonada pela sétima arte desde sempre, trabalhando com marketing para pagar as contas e assistindo a filmes para viver.

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