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Faça Ela Voltar (2025)

Publicado originalmente em 20/08 na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir com o projeto, assine aqui.


Assisti a Faça Ela Voltar (Bring Her Back), dirigido pela dupla australiana Danny Philippou e Michael Philippou, na pré-estreia. (De qualquer forma esse é um comentário mais ou menos sem spoiler) Eu vi o trailer na sessão de A Hora do Mal e ele vende uma trama macabra, talvez demoníaca, repleta de imagens perturbadoras.

Trata-se de uma história sobre dois irmãos, Andy (Billy Barratt) e Piper (Sora Wong), cujo pai faleceu. Faltam três meses para o menino completar 18 anos e poder reivindicar a guarda da irmã mais nova, que é deficiente visual. Ela distingue luz e alguns contornos (e a fotografia é sagaz  em emular esse efeito em certos momentos). Os dois são enviados para um lar temporário, aos cuidados de Laura (Sally Hawkings), uma mulher (com uma coleção de tricôs maravilhosos) em luto pela perda da filha, que já está cuidando de outra criança, o calado Ollie (Jonah Wren Phillips).

Não vou me prolongar muito sobre esse filme, mas devo dizer que o trailer mente bem. As imagens ritualísticas, registradas em fita com qualidade duvidosa, que retratam a tortura, o grotesco e talvez o sobrenatural, são um dispositivo externo: um tutorial, apartado dos acontecimentos centrais. Esses não se desenrolam sem suas estranhezas, mas se centram no drama em torno do luto.

É claro que há um escalonamento e devo dizer que há uma cena em particular, que envolve uma personagem mastigando uma faca, que foi uma das coisas mais fisicamente aflitivas que vi nos últimos tempos. Mas despida da aflição física, o filme propõe um drama mais banal. Ou pior, extrapola um estereótipo para lá de batido: o da mãe louca. E como os elementos dramáticos (em alguma medida forçados) nem sempre dialogam com o grau de absurdo presente no grotesco e a suspensão de descrença necessária para a aceitação do sobrenatural, a proposta toda fica meio perdida (embora, claro, não sem seus bem sucedidos incômodos).

TL;DR: é o tipo de filme que te dá cagaço mas quanto mais tu pensa menos gosta porque vai achando bobo. 

(Mas eu ri desse comentário no letterboxd pedindo pra checar se tá tudo bem com Paddington)

Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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