Filmes com atrizes negras para ver no Telecine
No dia 25 de julho se celebra no Brasil o Dia da Mulher Negra. A data também é o Dia Nacional de Tereza de Benguela, mulher quilombola que viveu no século XVIII e se firmou inspirada no Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, comemorado em 31 de julho. O dia propõe a reflexão sobre o ser mulher de maneira interseccional, destacando as especificidades de vivências de mulheres negras, em contraste com o abstrato “mulher”, que falha em dar conta das diversas experiências abarcadas sob o termo. Pensando nisso, separamos filmes com protagonistas interpretadas por atrizes negras que estão disponíveis no serviço de streaming do Telecine, destacando suas percepções sobre carreira, negritude e representatividade.
Mudança de Hábito (1992), dirigido por Emile Ardolino
Whoopi Goldberg costuma contar que, quando o seriado Jornada nas Estrelas estreou na televisão estadunidense em 1966, ela, então com 11 anos, ficou fascinada com a presença da Tenente Uhura, interpretada por Nichelle Nichols, na ponte de comando na nave Enterprise. Chamou sua mãe e disse “Mamãe! Tem uma mulher negra na televisão e ela não é empregada!”. E foi assim que ela descobriu que ela poderia ser atriz e interpretar vários tipos de papéis, além claro, de ser uma grande fã do seriado a ponto de fazer questão de participar de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração (1987-1994). Embora tenha estreado no cinema no papel de Celie, protagonista do drama A Cor Púrpura (1985), pelo qual foi indicada ao Oscar, o seu talento para o cômico sempre foi forte. Foi com pitadas de humor que conquistou o Oscar por Ghost – Do Outro Lado da Vida (1990) e estrelou Mudança de Hábito (1992), filme divertidíssimo em que interpreta uma cantora de cassino que, ao testemunhar um assassinato cometido por mafiosos, é colocada num programa de proteção a testemunhas que a esconde num convento e lá ela revoluciona o coral das freiras. Whoopi Goldberg é a prova de que representatividade no audiovisual importa e influencia percepções e escolhas. Sem saber, ela também se tornou inspiração. Leslie Jones afirma que se tornou atriz e comediante motivada pelo fato de ter visto Goldberg na televisão quando era criança e que falou “Olha, papai! Tem alguém na TV que parece comigo! Eu posso estar na na TV! Olha para ela!”.
As Viúvas (2018), dirigido por Steve Macqueen
Protagonizado por Viola Davis, Michelle Rodrigues, Elizabeth Debicki e Carrie Coon, o longa As Viúvas (2018) mostra quatro mulheres que perderam seus maridos, mortos numa tentativa de roubo, que se juntam para tentar levar a cabo o golpe que eles tinham planejado. A atuação de Viola Davis se destaca, trazendo momentos de emoção para sua personagem, que é a líder do grupo. A atriz já venceu um Emmy por seu papel no seriado How to Get Away with Murder (2014–2020) e um BAFTA, um Globo de Ouro e um Oscar pelo do filme Um Limite Entre Nós (2016). Com uma carreira sólida e um enorme talento, a atriz comentou numa entrevista que, ainda assim, não tem as mesmas oportunidades que suas colegas brancas: “Eu ganhei o Oscar, ganhei o Emmy, ganhei dois Tonys, fiz [trabalhos de teatro na] Broadway, fiz [trabalhos de teatro] fora da Broadway, fiz televisão, fiz cinema, fiz tudo. Eu tenho uma carreira que provavelmente é comparável a Meryl Streep, Julianne Moore, Sigourney Weaver. Todas saíram de Yale, saíram de Julliard, saíram da Universidade de Nova York. Elas traçaram o mesmo caminho que eu e, no entanto, não estou nem perto delas, nem em se tratando de dinheiro, nem de oportunidades de trabalho, nem um pouco perto”. Com isso, ela reforça que, embora mulheres tenham mais dificuldade em se tratando de trabalho em Hollywood, ser mulher funciona de forma diferente para cada uma, e muitas vezes o caminho é dificultado por essas diferenças.
Nós (2019), dirigido por Jordan Peele
A atriz mexicana de origem queniana Lupita Nyong’o é a dupla protagonista de Nós (2019), em que interpreta Adelaide, uma mulher que vai com sua família para um fim de semana de veraneio e também seu duplo, uma mulher idêntica a ela que lidera uma família também igual a sua. Sobre esse papel, para a atriz, “o mais notável é ter uma família negra no centro de um filme de terror, mas que, no que diz respeito à história, sua negritude não está em questão”, ou seja, trata-se de uma história em que o aspecto assustador das vidas daquelas pessoas não é perpassado pela negritude, como costuma acontecer em muitos dramas que lidam com a temática do racismo. O que não quer dizer que raça não opere nas experiências de cada pessoa e, em se tratando da interseção com gênero, a atriz destaca como o colorismo afeta as meninas. Mencionando seu processo de auto-aceitação, disse em discurso: “Espero que minha presença em suas telas e nas revistas possa levá-la, menina, a uma jornada semelhante. Espero que você sinta a validação de sua beleza externa, mas também chegue ao tema mais profundo de ser bonita por dentro”. Lupita escreveu um livro infantil chamado Salwe, sobre uma menina “nascida com a cor da meia-noite”, para incentivar crianças, meninas em especial, a verem suas próprias belezas.
O Ódio Que Você Semeia (2018), dirigido George Tillman Jr.
Para fechar essa lista, citaremos o trabalho de uma pessoa não-binária que afirma que não necessariamente se sente como uma mulher o tempo todo, mas às vezes sim, levando em conta, justamente, que o termo “mulher” muitas vezes implica tipos específicos de feminilidade que podem ser excludentes. Com apenas 21 anos de idade e atuando profissionalmente desde os 4, Amandla Stenberg aceita o uso de pronomes “elu/delu”, mas afirma não precisar deles para se sentir confortável e que pode usar, também, “ela/dela”. Seu sucesso chegou com o papel de Rue, no filme Jogos Vorazes (2012). Protagonizando O Ódio Que Você Semeia (2018), sua personagem é Starr, uma adolescente que vê seu amigo de infância, também negro, ser assassinado por policiais brancos, e tem que lidar com a pressão e a expectativa em torno da forma como deve se posicionar. Stenberg traça um paralelo entre as suas vivências e as da personagem: “Starr está crescendo em uma comunidade negra de baixa renda, mas frequentando uma escola particular predominantemente branca do outro lado da cidade – essa foi uma experiência que eu também tive. Aprendi rapidamente a alternar códigos entre diferentes ambientes e a me compartimentar para me encaixar”. Se definindo como feminista interseccional e vocalizando suas experiências como pessoa que é racializada e generificada, ela diz: “Muitas vezes recebo as perguntas: ‘Qual você acha que é a questão social mais importante para se concentrar?’ ou: ‘Qual é o componente mais importante da identidade? São os direitos LGBT, raça ou feminismo?’ E eu digo tipo, ‘Bem, eles estão todos entrelaçados. É tudo uma conversa só no final. Você não pode simplesmente escolher um”. Assim, ela mostra que todas as pessoas vivem a complexidade de articular aqueles marcadores sociais de diferença que lhes são atribuídos e as questões e ativismos que nascem deles.
Esses e outros filmes você encontra no serviço de streaming do Telecine.
Esse conteúdo foi produzido pelo Feito por Elas, de maneira patrocinada, em parceria com o Telecine.