
Listinha de leituras e filmes com personagens freiras e padres
Publicado originalmente em 21/05 na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir com o projeto, assine aqui.
Mês passado talvez uma das maiores conversas tenha sido a eleição do Papa Leão XIV como novo chefe da Igreja Católica. Então eu pensei: porque não aproveitar a desculpa e fazer uma lista de indicações de livros e filmes com protagonistas padres e freiras? Vou deixar de fora todos os filmes do Scorsese e do Paul Schrader, O Exorcista e seus derivados, Mudança de Hábito, os dramas de denúncia dos abusos da igreja do séculos XXI, e os recentes Os Dois Papas e Conclave. Bora?


Pássaros Feridos, de Colleen McCullough e Pássaros Feridos (The Thorn Birds, 1983)
Eu não sei se eu posso dizer que essa seja exatamente uma recomendação, porque faz muitos anos que eu li. Ela veio a mim numa idade, ali pelos 9 anos, em que eu comecei a buscar livros maiores, porque os infantis acabavam muito rápido. Mas as pessoas me entregavam os volumes sem levar em conta a classificação etária. Então minha professora de português da quarta série me emprestou esse romance, que se passa no começo do século passado e cuja protagonista, Meggie, vem de uma família irlandesa que se muda para a Austrália, onde vive uma tia mais rica. O drama central da história, que se desenrola ao longo de várias décadas, é o amor proibido entre Meggie e Ralph, um padre obstinado a não largar sua batina. Foi adaptado para uma minissérie em 4 capítulos, estrelada por Richard Chamberlain e Rachel Ward.

Os Pecados Cardeais, de Andrew Greeley
Esse eu lembro de ter feito algum relatório sobre, escrito à mão, para a aula de português ali pela 7ª série. A trama era bem simples: os dois protagonistas são dois padres, Kevin Brennan e Patrick Donahue, com abordagens diferente: um tem plena crença em seus votos e no seu papel religioso e outro é ambicioso, quebra os votos o tempo todo e gradativamente galga os degraus da hierarquia da igreja. Eu lembro de ser o tipo de narrativa folhetinesca que tem um apelo pra quem está lendo, especialmente nessa idade, com intrigas, política e sexo. O que me surpreendeu ao dar uma googleada agora foi descobrir que o autor é padre. Ele diz que literatura é uma forma dele fazer seu trabalho como sacerdote e rebate as críticas sobre o tratamento de sexualidade dos livros dele, afirmando que sexo é dos planos de Deus e que não tem nada ali que não esteja em Cântico dos Cânticos (o livro da Bíblia) também. Achei moderno.


O Cardeal, de Henry Morton Robinson e O Cardeal (The Cardinal, 1963), de Otto Preminger
Confesso que eu não tenho muitas lembranças desse, mas meus pais tinham um exemplar em casa. É mais uma história de ascensão de um jovem, Stephen Fermoyle, que cresce nos bairros pobres de Boston, nos EUA e se torna padre, gradualmente sendo promovido até receber o título que dá nome à obra. Alguns anos depois foi adaptado ao cinema por Otto Preminger com Tom Tryon no papel principal, se tornando um dos grandes sucessos do ano e rendendo 6 indicações ao Oscar.
Disponível no youtube


O Nome da Rosa, de Umberto Eco e O Nome da Rosa (The Name of the Rose, 1986), de Jean-Jacques Annaud
Quem me emprestou o livro foi meu professor de biologia do 1º ano (temos um padrão). Da primeira vez que eu li, conhecendo Sherlock e sendo leitora assídua de Agatha Christie, achei que era um livro legal de crime. A trama: no século XIV, um frade chamado Guilherme de Baskerville (wink wink) chega em um mosteiro acompanhado do noviço Adso de Melk. Nesse local há uma imensa biblioteca, guardada pelo já idoso padre Jorge da Burgos e onde trabalham copistas, mantendo e criando livros que guardam conhecimentos desde a antiguidade. Mas depois de sua chegada, uma série de assassinatos começa a acontecer e eles passam a investigá-los. Uma releitura adulta mostra questões sobre filosofia e religiosidade da época e Eco brincando com a linguagem popular e com elementos de erudição. Obra prima! O filme traz Sean Connery no papel principal e Christian Slater como se assistente e… é um filme.

A Concha e o Clérigo (La coquille et le clergyman, 1928), de Germaine Dulac
Um padre está obcecado pela esposa de um militar. Dulac experimenta com a montagem e composição de imagens em um filme hermético, que eu considero um marco do Surrealismo.
Disponível no youtube

Narciso Negro (Black Narcissus, 1947), de Michael Powell e Emeric Pressburger
São feiras anglicanas, mas estão aqui por liberdade poética. Esse filme se passa num convento no meio do Himalaia, onde vive um grupo de freiras, que mantém lá um hospital. Até que chega… um homem. E aí as coisas começam a sair dos eixos. Um drama psicossexual com pinturas matte lindíssimas e estrelado por Deborah Kerr.
Disponível no Belas Artes à La Carte

A Tortura do Silêncio (I Confess, 1953), de Alfred Hitchcock
Um padre ouve em confissão um assassino admitir seu crime. Mas ele não pode quebrar o sigilo e revelar o segredo e acaba se tornando ele mesmo o principal suspeito do assassinato. Não é dos filmes mais lembrados do mestre do suspense mas merecia mais atenção e, com Montgomery Clift no papel principal, é um dos percussores do subgênero “padre gato”.
Disponível no Belas Artes à La Carte

O Céu é Testemunha (Heaven Knows, Mr. Allison, 1957), de John Huston
Em mais uma entrada do Universo Cinematográfico Eclesiástico da Deborah Kerr (ECEDK), dessa vez ela interpreta uma freira católica que, durante a Segunda Guerra Mundial naufraga em ilha do Pacífico na companhia de um soldado estadunidense, interpretado por Robert Mitchum. Sim, é propaganda. E sim, é bem gostosinho assistir aos dois organizando sua sobrevivência e ao nascimento do vínculo que eles estabelecem, bem sustentado pelas atuações.

Uma Cruz à Beira do Abismo (The Nun’s Story, 1959), de Fred Zinnemann
Uma jovem belga, filha de um médico renomado, se torna freira para estudar enfermagem e assim poder trabalhar nos hospitais mantidos pela igreja. O filme toma seu ritmo para mostrar todo o período de preparação para o voto e seus estudos na área da saúde. Posteriormente, ela é enviada para lidar com doenças tropicais no Congo. Não é problematizada nem contextualizada a questão colonial, mas o conflito entre a vocação e a individualidade. Talvez a melhor atuação da carreira de Audrey Hepburn (ou seria Um Caminho para Dois? Mas está logo ali, de qualquer forma).

Anjos Rebeldes (The Trouble With Angels, 1966), de Ida Lupino
A protagonista, Mary, é uma menina interpretada por Hayley Mills, a gêmea do Operação Cupido original, que na verdade se chama O Grande Amor de Nossas Vidas (The Parent Trap, 1961) e que recentemente apareceu em Armadilha (Trap, 2014), de Shyamalan. Nesse filme ela é enviada para um internato de garotas onde passa a conviver com um grupo heterogêneo de crianças e de freiras-professoras, incluindo a Madre Superiora vivida por Rosalind Russell. Diversão garantida estilo sessão da tarde.

Stigmata (1999), de Rupert Wainwright
Eu lembro que eu fui sozinha ver no cinema e depois que o filme começa, na ficcional cidade de Belo Quinto, no Brasil (!), a luz acabou. Quase simbólico. Tive que esperar a próxima sessão. Uma mulher começa a manifestar as chagas de Cristo e o Vaticano envia um padre para investigar. Patricia Arquette! Gabriel Byrne! Evangelhos apócrifos! Música tema Mary Mary do Chumbawamba! Nada garante que esse filme seja bom em 2025, mas tem o selo de qualidade Isabel 14 anos ®1999.

Por hoje é isso! Lembrou de mais algum?
