Melhores livros lidos em 2020
Esse ano, felizmente, voltei às leituras, em grande medida por causa do Grupo de Leitura do Feito por Elas, que foi uma das melhores coisas que de 2020 para mim. Em 2019 o Brasil desgraçou minha cabeça e eu simplesmente não consegui me dedicar aos livros. Foi ótimo voltar. Vamos à lista:
Ficção
As Meninas – Lygia Fagundes Telles
Narrativa formalmente complexa escrita durante a ditadura militar no Brasil. A história, protagonizada por três jovens estudantes com trajetórias e personalidades distintas, é marcada pela tragédia e pela perda da inocência. A língua portuguesa abarca muita poesia na dor.
O Sol É Para Todos – Harper Lee
Infelizmente muito contemporâneo. Com um texto imersivo e difícil de largar, apesar dos temas difíceis, vemos o mundo pelos olhos de uma criança que descobre que sua vizinhança pacata e simpática esconde pessoas cruéis, racistas e odiosas.
R.U.R. – Karel Čapek
Rossum’s Universal Robots (Robôs Universais de Rossum, em tradução livre), é uma peça de teatro interessantíssima que abrange a criação (e insurgência contra seus criadores) de humanoides. Foi a responsável pela popularização do termo robô.
Não-Ficção
Quarto de Despejo – Carolina Maria de Jesus
A autora traz poética para um cotidiano duro. Seu texto nos relata a rotina de uma vida sempre em busca de sobreviver àquele dia com a beleza e habilidade de quem ama as palavras. A geografia me é de uma proximidade inquietante, que me apresenta, sem querer, a história do bairro onde moro.
The Posthuman – Rosi Braidotti
Um interessante panorama sobre os debates que envolvem o conceito de pós-humano, abordando avanços científicos, questões éticas e filosóficas, além de questões políticas ligadas à interseccionalidade e estudos pós-coloniais. A cabeça explode durante a leitura.
Sociologia del Cine – Pierre Sorlin
É um ensaio sobre metodologias de trabalho para pesquisas sobre cinema na sociologia, que pode se expandir para outras áreas das ciências humanas, como história e antropologia. Escrito com uma poética muito própria, o texto, instigante, leva quem lê a se questionar “estaria fazendo tudo errado até agora?”.
Pureza e Perigo: Ensaio sobre as noções de poluição e tabu – Mary Douglas
Nesse ensaio clássico estruturalista sobre as noções de pureza, a autora discute os limites do impoluto que perpassam as religiões, mas também outras tradições que permeiam nossas vidas. Havia lido pela primeira vez em 2014 e reler agora, junto com minhas notas de então, pensando em hibridismo e ciborguização, foi realmente revelador.
Olhares Negros: Raça e representação – bell hooks
Coletânea de ensaios da autora, com uma escrita fluida, ótima para reflexões sobre recepção de audiovisual e questões étnico-raciais. Aborda desde cineastas renomados, passando pelos papéis relegados a mulheres negras no cinema, pela impossibilidade de identificação (acionando e questionando Laura Mulvey) até a proposta da construção de um olhar opositivo.
Saudades do Futuro: Ficção Científica no cinema e o imaginário social sobre o devir – Alice Fátima Martins
Fruto da pesquisa de doutorado da autora, o livro traça um belo panorama sobre a forma como criamos mundos na ficção científica da sétima arte e como esses mundos possibilitam reflexões sobre nossas ideias a respeito de sociedade presente e futura. O recorte é abrangente e os temas abordados são muito interessantes.
Quadrinhos
Fugir: o relato de um refém – Guy Delisle
Eu gosto muito dos quadrinhos do autor, que é um animador casado com uma mulher que trabalha no Médico Sem Fronteiras, o que o leva a morar em diversos lugares pelo mundo e relatar essas experiências em quadrinhos. Mas esse é o primeiro de seus livros que é um relato de outra pessoa: justamente um médico que estava alocado na região do Cáucaso que foi sequestrado em virtude de um conflito político no local. A capacidade de demonstrar a solidão, a repetição de dia após dia e a angústia misturada com desejo de conseguir sair e impressionante.
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