Minha Lua de Mel Polonesa
Fotos antigas que guardam recordações de antepassados que sequer conhecemos: assim começa o filme Minha Lua de Mel Polonesa. A diretora, Élise Otzenberger, que também roteirizou o filme, tem muito em comum com a protagonista, a francesa Anna (Judith Chemla). Assim como ela, é de família judia de origem polonesa e pouco sabe sobre eles, em virtude das vidas e histórias dizimadas durante o Holocausto. Anna, que é casada com Adam (Arthur Igual) e tem um bebê de um ano de idade, pede aos seus pais que cuidem da criança por alguns dias para que o casal viagem para a Polônia. A ideia é que tenham tempo para si, mas também que possam buscar por esse passado, pela origens de sua avô e pela rememoração dos 75 anos do extermínio de pessoas judias na vila de origem de Adam.
Enquanto comédia, o filme aborda de maneira interessante as diferenças culturais e de hábitos entre franceses e poloneses, também destacando as tensas relações étnico-raciais ainda presentes quando se trata do judaísmo. “Eu sou polonesa, posso dizer que eles são geneticamente antissemitas”, afirma a mãe de Anna. Talvez não seja o caso de uma explicação biológica, mas o filme aborda, de maneira surpreendentemente leve, o casual antissemitismo e os embates passados pelos personagens em torno deles. Outras fricções vêm do senso interno de veneração e respeito em relação à religião: ser ou não ser kosher, circuncidar ou não circuncidar o bebê? Definir até onde as tradições são mantidas cria limites diferentes para Anna e Adam, que precisam percorrer essa linha em busca de um equilíbrio para os dois.
A sobrevivente do holocausto Avelyn Askolovitch aparece em pessoa, como memória viva e testemunha das atrocidades cometidas pelo regime nazista. Sua fala, frisando que, caso neguem a existência de campos de concentração, lembrem-se dela, que esteve lá, tem enorme peso. Isso especialmente em tempos de negacionismo e em que essas testemunhas logo não estarão aqui para lembrar com suas presenças da história.
Mas é nesse aspecto, como drama, que o filme às vezes não parece saber qual tom adotar, até mesmo pela natureza delicada do tema. Anna destaca o desconforto de não poder saber mais sobre sua história, por tudo que lhes foi tirado, mas o peso desse desconforto destoa da leveza com que todo o restante da viagem é tratada, explicitada até no romantismo do título. Apesar disso é um filme bonito, que fala sobre fazer as pazes com a memória e a ancestralidade que se ausenta na impossibilidade de tornar tangível aquilo que se perdeu, e sobre os possíveis caminhos futuros com aquilo que se tem em mãos.
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