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O Quarto ao Lado (The Room Next Door, 2024)

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Em meio à cobertura da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, não houve tempo para redigir uma crítica completa sobre o filme, mas, para não passar batido, compartilho um breve comentário.

O Quarto ao Lado (The Room Next Door, 2024)

Direção: Pedro Almodóvar

Sinopse: Ingrid (Julianne Moore) e Martha (Tilda Swinton) eram amigas íntimas na juventude, quando trabalhavam juntas na mesma revista. Ingrid se tornou escritora de autoficção, e Martha, repórter de guerra. Elas foram separadas pelas circunstâncias da vida. Depois de anos sem contato, elas se encontram novamente em uma situação extrema, mas estranhamente doce. O Quarto ao Lado recebeu o Prêmio Leão de Ouro do Festival Internacional de Cinema de Veneza 2024.

Comentário: Um cineasta veterano refletindo sobre o fim pessoal que também é o fim coletivo. Enquanto presenciamos o caos climático e a ascensão da extrema direita, ecofascistas se agitam e outras pessoas permanecem imperturbáveis. Mas se nem tudo numa escala macro se alinha, no micro as perdas se fazem cotidianas, num processo de espelho. Almodóvar abraça com gosto o melodrama que lhe é tão caro. O diálogo com Douglas Sirk vem facilmente à mente, mas, com a presença de Moore, impossível não pensar também em Todd Haynes.

Parece que trabalhar com ela e com Swinton é como se fosse um desejo antigo, dificultado pelo idioma. (E sim, o texto do resultado final às vezes vai soar truncado, além de parecer, muitas vezes, o diretor falando pela boca das personagens, mas isso não prejudica as reflexões e as atuações apresentadas). Ambas brilham. Quando a gente pensa os ícones queer que as duas são, a parceria entre os três parece que seria inevitável. Ver Tilda (de Orlando) e Julianne (de As Horas) casualmente conversando sobre Virginia Woolf é quase metalinguístico. O filme equilibra bem entre o humor e o drama, enquanto trabalha a noção de perenidade do corpo  e o legado que fica para trás. 

PS: Para quem for a “doida do figurino” como eu, é um deleite observar cada peça, afinal, Almodóvar né, Mas observa como as roupas da Moore começam numa paleta outono escuro (quente), enquanto Swinton se veste de primavera brilhante (fria). E aí repara que a última blusa que Moore usa, quase no fim do filme, finalmente incorpora uma blusa de verde intenso da paleta da amiga. Almodóvar, eu te amo. 

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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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