Críticas e indicações,  Livros

Quarenta dias, de Maria Valéria Rezende

Sugestivo nome de livro pra ler na quarentena, não é mesmo? Mas Quarenta dias, da escritora (e freira!) Maria Valéria Rezende, já estava em meus planos de leitura antes mesmo deste caos pandêmico começar… A narradora-protagonista ora refere-se a si mesma como professora Póli, ora como Alice, durante seu percurso nômade em busca do desconhecido Cícero (seu Cheshire), o que ela mesma admite ser um pretexto para flanar e se perder por aí. Fugindo de uma condição imposta pela filha, ela acumula folhetos (estampados nas páginas formando uma trilha ilusória de pistas) e guardanapos com citações, palavras estas roubadas de sebos e livrarias, e sente na pele a invisibilidade e traços maquiados de racismo na medida em que borra os parâmetros sociais de dignidade, enquanto rompe com o mito do amor materno. A trajetória é retomada à caneta nas linhas de um improvável caderno com capa da Barbie, interlocutora plástica, passiva e inumana que completa o contraste com a figura da “senhora aposentada, conformada e solitária” tão bem quanto a mochila de rodinhas infanto-juvenil que carrega pela cidade com “seus térens”. O romance de 2014 recebeu o Prêmio Jabuti.

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Doutoranda em Estudos de Linguagens pelo CEFET-MG

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