Críticas e indicações,  Filmes

6 figurinistas para conhecer no Telecine + 1 extra

O figurino é uma ferramenta potente na narrativa, que nos conta sobre onde e quando a história se passa, nos revela detalhes sobre a personalidade de seus personagens e dá pistas, aliado a outros elementos do design de produção, sobre o tom e a atmosfera da história a ser contada. Figurinos não se resumem a roupas bonitas: eles precisam servir ao que está sendo contado. Muitas vezes figurinistas firmam parcerias constantes com pessoas que dirigem filmes e são, em grande parte, responsáveis pela estética que costumamos associar justamente àquela direção. Por esse motivo, apresentamos aqui seis figurinistas, com indicações de filmes para você conhecer um pouco mais sobre suas obras e estilos. Todas elas você encontra no Telecine: clique nos links sobre os títulos dos filmes para acessá-los.

Jenny Beavan

A figurinista britânica Jenny Beavan foi premiada no Oscar por Uma Janela Para o Amor (1985), de James Ivory e por Mad Max: Estrada da Fúria (2015), de George Miller. Embora tenha acertado na criação de uma estética particular no sci-fi pós-apocalíptico no último, compondo peças repletas de pequenos detalhes e pensando na escassez de recursos do universo diegético, ela é mais conhecida por seu trabalho em filmes de época. Obras como Retorno a Howards End (1992) e Vestígios do Dia (1993), ambos de James Ivory; Razão e Sensibilidade (1995), de Ang Lee, e Anna e o Rei (1999), de Andy Tennant, entre outras, somam oito indicações para o Oscar de figurino. Outro filme pelo qual Jenny Beavan foi indicada é Assassinato em Gosford Park (2001), um delicioso drama com pitadas de humor dirigido por Robert Altman e com roteiro de Julian Fellowes (criador e roteirista do seriado Downton Abbey), retrato preciso das dinâmicas de classe na Inglaterra do começo do século XX, em que as roupas caras em oposição aos uniformes já posicionam antecipadamente cada personagem. 

Judianna Makovsky

A figurinista Judianna Makovsky tem três indicações ao Oscar: A Vida em Preto e Branco (1998), Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001) e Seabiscuit: Alma de Herói (2003). Um de seus primeiros trabalhos foi o filme Quero Ser Grande (1988), de Penny Marshall, diretora sobre a qual temos um podcast. Judianna também trabalhou em parceria com Alfonso Cuarón, criando cores que são parte essencial da narrativa: o contraste entre o frio e o calor em A Princesinha (1995) e o uso do verde de maneira sufocante em Grandes Esperanças (1998). Depois disso ela se estabeleceu em filmes de fantasia e ficção científica, como Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001), em que trabalhou para construir a atmosfera lúdica e (desculpe) mágica da franquia; X-Men: O Confronto Final (2006), em que colaborou com a virada estilística da série, com cores mais escuras e menos cartunescas; Jogos Vorazes (2012), estabelecendo um universo em que as roupas são fundamentais para a marcação de classe e de distrito dos personagens; e, por fim, diversos filmes do Universo Cinematográfico Marvel, entre eles Guardiões da Galáxia Vol. 2 (2017) e Vingadores: Guerra Infinita (2018).

Sandy Powell

Nome forte da indústria, Sandy Powell tem nada menos que 15 indicações ao Oscar e por três anos diferentes competiu consigo mesma, com dupla indicação. Seu ponto forte também são os filmes de época, mas costuma fugir da fidelidade ao período retratado, usando de elementos lúdicos e flertando com o glam sempre que possível dentro da proposta das obras. Alguns de seus trabalhos de destaque são Orlando, a Mulher Imortal (1992), dirigido por Sally Potter, sobre o qual temos um programa; Entrevista com o Vampiro (1994), de Neil Jordan; Asas do Amor (1997), de Iain Softley; Velvet Goldmine (1998), de Todd Haynes, e Shakespeare Apaixonado (1998), de John Madden. Recentemente começou uma parceria com o diretor Martin Scorsese, sendo a responsável pelos trajes de Gangues de Nova York (2002), O Aviador (2004), Os Infiltrados (2006), Ilha do Medo (2010), A Invenção de Hugo Cabret (2011), O Lobo de Wall Street (2013) e O Irlandês (2019). Também é responsável pelo tons natalinos que marcam as protagonistas em verde e vermelho no romance Carol (2015), novamente de Todd Haynes. O trabalho recente de Sandy Powell em A Favorita (2018), de Yorgos Lanthimos, é de uma abordagem única: utiliza tecidos comprados em feiras e jeans para criar os caros trajes da corte real, criando a oposição entre duas das protagonistas reforçada pelo uso de preto e azul. As rendas recortadas a laser completam o visual deliciosamente anacrônico.

Ruth E. Carter

Imagem: Gage Skidmore/ Creative Commons

Transitando com facilidade entre filmes de época, contemporâneos e de fantasia, a figurinista Ruth E. Carter, três vezes indicada e uma vez premiada no Oscar, tem um trabalho fortemente marcado pela discussão de questões étnico-raciais e a exploração de elementos visuais que reforçam a história e a cultura em torno do black power. Trabalha em parceria com o diretor Spike Lee, sendo responsável por figurinos de filmes como Malcom X (1992), pelo qual foi indicada ao Oscar, Uma Família de Pernas pro Ar (1994), Irmãos de Sangue (1995), O Verão de Sam (1999), A Hora do Show (2000), Oldboy: Dias de Vingança (2013), A Doce Sede de Sangue (2014) e Chi-Raq (2015). O cineasta John Singleton também costumava ser seu parceiro de trabalho e ela foi a responsável pelos figurinos de O Massacre de Rosewood (1997), Bad Boy- O Rei da Rua (2001), Shaft (2000), Quatro Irmãos (2005) e Sem Saída (2011). Além disso, teve outra indicação ao Oscar por Amistad (1997), de Steven Spielberg, e desenhou o figurino de Selma: Uma Luta Pela Igualdade – a respeito da marcha de Selma a Montgomery, nos Estados Unidos, liderada por Martin Luther King – filme dirigido por Ava DuVernay, sobre a qual temos um programa. Destacamos o papel de Carter em Pantera Negra (2018), pelo qual ganhou o Oscar e em que utiliza referências às indumentárias de diversos grupos étnicos do continente africano para criar uma estética afro-futurista única dentro da franquia da Marvel, mas que ainda assim coordena com os demais filmes. É um trabalho em que a extensão da pesquisa realizada fica patente em cada detalhe. 

Jacqueline Durran

Sete vezes indicada ao Oscar e duas vezes premiada, a figurinista Jacqueline Durran é parceira habitual do diretor Joe Wright. Seu segundo trabalho em longas metragens foi em Orgulho e Preconceito (2005), dirigido por ele. Em seguida, repetiram a parceria em Desejo e Reparação (2007), quando o vestido verde de Keira Knightley chegou a ser apontado como um dos trajes mais marcantes da história do cinema. Esses dois trabalhos seguidos foram lembrados pela academia, tornando-a uma figurinista ainda iniciante mas já com destaque. Depois disso trabalharam juntos novamente em O Solista (2009) e Anna Karenina (2012), quando usou a desconstrução do que se espera de roupas do período retratado, marcando em preto, branco e vinho a jornada trágica da protagonista e pelo qual foi premiada com o Oscar. A dupla ainda trabalhou em Peter Pan (2015) e O Destino de uma Nação (2017), que rendeu mais uma indicação a Durran. Outros trabalhos da figurinista que se destacam são Nanny McPhee e as Lições Mágicas (2010), dirigido por Susanna White, em que construiu um universo fantástico; O Espião Que Sabia Demais (2011), de Tomas Alfredson, em que engenhosamente, nas roupas de seus participantes, dá pistas do vilão desconhecido num jogo de espionagem; O Duplo (2013), de Richard Ayoade, em que marca as principais características dos protagonistas na sua forma de vestir; Mr. Turner (2014), pelo qual foi indicada ao Oscar novamente, e Macbeth: Ambição e Guerra (2015), dirigido por Justin Kursel, uma explosão estilística de cores. As suas últimas indicações vêm da reimaginação da história de A Bela e a Fera (2017), dirigido por Bill Condon e, recentemente, foi premiada por Adoráveis Mulheres (2019), de Greta Gerwig, no qual compõe por meio das cores a marcação das duas linhas de tempo da narrativa, feito discutido em nosso programa sobre o filme

Milena Canonero

Veterana na indústria, o trabalho de Milena Canonero, nove vezes indicada e quatro vezes premiada no Oscar, circula entre a fantasia, ficção científica e filmes de época, e é marcado pela grande estilização. O primeiro filme em que trabalhou foi Laranja Mecânica (1971), de Stanley Kubrick, cujas roupas são copiadas e reverenciadas até hoje. A parceria entre os dois se repetiu em Barry Lyndon (1975), em que usa o retrato histórico fiel para ressaltar o ridículo de seus protagonistas e pelo qual ganhou seu primeiro Oscar. A parceria com o diretor se fecha com O Iluminado (1980) e em seguida vence seu segundo Oscar com Carruagens de Fogo (1981), de Hugh Hudson. Se seguiram cinco indicações: Entre Dois Amores (1985), de Sydney Pollack; Tucker: Um Homem e Um Sonho (1988), de Francis Ford Coppola, com quem repetiria a parceria em O Poderoso Chefão III (1990); Dick Tracy (1990), de Warren Beaty; Titus (1999), de Julie Taymor; e O Enigma do Colar (2001), de Charles Shyer. Suas premiações mais recentes vieram com Maria Antonieta (2006), dirigido por Sofia Coppola – sobre a qual temos um podcast – em que criou um mundo anacrônico de realeza em tons pastel (como esquecer do tênis all star da rainha?) e O Grande Hotel Budapeste (2014), de Wes Anderson, outro universo em cores claras em que o estilo do diretor foi realçado, repetindo a parceria firmada em A Vida Marinha de Steve Zissou (2004) que retomarão esse ano com The French Dispatch (2020). Canonero também  retomou a parceria com a família Coppola em Paris Pode Esperar (2016), de Eleanor Coppola.

Edith Head

Para fechar essa lista, não deixe de conferir em nosso Twitter o fio que a Isabel fez sobre a icônica Edith Head, 35 vezes indicada ao Oscar e oito vezes premiada, figurinista que definiu a imagem de diversos filmes clássicos!

Lembramos que você encontra o trabalho dessas e de outras figurinistas no catálogo do Telecine. Não deixe de acessar a cinelist Mulheres Fazem Cinema e conferir a sessão Figurinistas!

Esse conteúdo foi produzido pelo Feito por Elas, de maneira patrocinada, em parceria com o Telecine.  
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Projeto para discutir, criticar e divulgar os trabalhos de mulheres no cinema.

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