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[Tribeca 2025] Re-Creation

Este texto faz parte da cobertura do Tribeca Film Festival 2025, que ocorre entre 4 e 15 de junho.


Re-Creation é daqueles filmes que estreiam com a sombra de outro, muito melhor, ainda pairando. É difícil ver o novo trabalho do irlandês Jim Sheridan, co-dirigido com David Merriman, e não pensar em Jurado Nº 2, de Clint Eastwood. Assim como o drama lançado no final do ano passado, o título mais recente é um exercício sobre a justiça e todos os lados de uma verdade. Mais que isso: é um filme que também aborda um crime pelo lado do grupo de jurados com o poder de dar uma sobrevida (literal) para alguém que está no banco dos réus.

Não que seja a mais original das ideias. O filme de Eastwood debate a moralidade e as crenças humanas em um modelo que evoca 12 Homens e Uma Sentença, o texto adaptado para o cinema por Sidney Lumet em 1957 e por William Friedkin quatro décadas depois. Em Re-Creation, o impacto vem pela reimaginação a partir de um crime real: o assassinato de Sophie Tuscan Du Plantier. Em dezembro de 1996, a francesa foi encontrada morta perto da casa onde morava, em um vilarejo irlandês. Principal suspeito do crime, o jornalista Ian Bailey foi condenado à revelia na França, mas o caso nunca chegou a ser julgado no país onde Sophie morreu. Sheridan e Merriman partem daí em um filme que imagina o que teria ocorrido com Bailey no banco dos réus na Irlanda.

O “e se” proposto por Re-Creation pode ser uma síntese do filme, que nunca sai do campo da possibilidade de ser interessante. Ele nunca o é de fato. O drama se perde no professoral, com o tema sempre sobrepondo a forma. Lumet brinca com a profundidade de campo para expor as tensões daquela deliberação entre os jurados. Eastwood faz uma reflexão sobre os símbolos da América como analogias ao peso de cada peça do quebra-cabeça montado para convencer um júri. Já a dupla Sheridan e Merriman se perde em soluções fáceis demais, a começar pela jurada número 8. Mesmo bem defendida por (para surpresa de ninguém), a personagem não é construída com profundidade para ser um contraponto forte o suficiente para mudar o jogo do filme de cara. 

Mais uma vez, a comparação com 12 Homens e Uma Sentença é o calcanhar de aquiles. A escolha da personagem como aquela que questiona a culpa de Bailey é uma alusão ao jurado – também número 8! – interpretado por Henry Fonda no filme de Lumet. Com um sentimento forte sobre o sistema e sobre ter que ajudar a decidir o destino de uma pessoa que não conhece, a jurada vivida por Krieps é o ponto moral do filme. Por ser uma das poucas mulheres do grupo é óbvio que ela é alvo de reações violentas por parte do corpo de jurados, algo que logo é observado em diálogos expositivos e que evocam comparações com outro filme recente que questiona (com mais inteligência, sobretudo visual) o sexismo do judiciário, Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet.

O filme parte da certeza para a dúvida na tentativa de colocar o assassinato de Du Plantier como o reflexo da falha das instituições para com o povo – algo que Sheridan já explorou com abordagem mais enérgica em 1993, com Em Nome do Pai. É uma escolha com um fundo nobre quando pende para os questionamentos sobre a justiça, mas nada disso vale muito se o filme anda em círculos. 

Crítica de cinema, membra da Abraccine, amazonense, 30+, ama novela mexicana

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