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[43ª Mostra de São Paulo] Teerã Cidade do Amor (Tehran: City of Love, 2018)

Esta crítica faz parte da cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro na cidade.

Três pessoas em busca de algo que não está lá. Teerã Cidade do Amor apresenta seus protagonistas inseridos em um cenário urbano que marca essa procura, mesmo que nem sempre o encontro seja possível. Teerã emoldura as incoerências de cada um e ilustra, ela mesma, suas próprias idiossincrasias.

Hassam canta em enterros em uma mesquita e por isso seu cotidiano é mergulhado em roupas pretas e melancolia. Sua namorada termina o relacionamento porque não quer viver dessa forma. Alguém lhe pede para cantar em um casamento e é quando conhece a fotógrafa Niloufar e passa a querer frequentar mais casamentos que funerais, mesmo que os casamentos particulares não sejam bem vistos aos olhos da religião. As roupas clareiam, as músicas se tornam alegres. Mas Niloufar tem seus próprios planos.

Vahid é um ex-tri-campeão de bodybuilding que trabalha como personal trainer de homens idosos. O ambiente tradicional de luta é cheio de imagens antigas de homens fortes e bigodudos segurando uns aos outros pela cintura de suas calças. Ele parece desmotivado, até que começa a treinar o sobrinho de um dos clientes para um torneio e só pensa no rapaz. Mesmo com os planos de se tornar ator e a possibilidade de contracenar com Louis Garrel, que ele orgulhosamente apresenta como o ator mais famoso da França, deixa tudo de lado para treiná-lo. É interessante como certos padrões de masculinidade, repletos de poder, belicismo e músculo, rodeiam o personagem, como Marlon Brando em O Poderoso Chefão, Al Pacino em Scarface ou Rocky. Mas ao fim, quem prevalece é a aquela vulnerável de Jame Dean em Juventude Transviada.

Mina, por sua vez, é uma mulher gorda que trabalha como recepcionista em uma clínica de estética e cirurgia plástica. Amiga de Niloufar e já tendo atendido Vahid, ela é o elo que conecta todas as tramas. Forough Ghajabagli, que a interpreta, levou o prêmio de melhor atriz no Festival Internacional de Cinema de Pequim esse ano. Enquanto a personagem mente ao médico que tenta ajudá-la a emagrecer, ela sonha em se relacionar com os homens atléticos que frequentam o local e para isso, troca mensagens com eles usando fotos de mulheres mais magras. Quando conhece, em um curso, um homem completamente diferente daqueles que cobiçava até então, sua perspectiva muda.

Apesar de Mina conectar os três, as histórias nunca se cruzam realmente. O roteiro do diretor Ali Jaberansari em parceria com Maryam Najafi é certeiro ao entrelaçar esses estranhos em um sentido muito mais fabulesco, tratando cada história como se fizesse parte de uma comédia romântica. Essas estratégias narrativas acabam por ressaltar os costumes locais e tornar o filme único, diferenciando-o das contrapartes estadunidenses ao ressaltar a Teerã do título e suas particularidades. Teerã Cidade do Amor é um filme sobre encontros e desencontros e a solidão e a desconexão da cidade grande que poderia se passar em qualquer lugar do mundo, e ao mesmo tempo não.

Nota: 4 de 5 estrelas
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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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