[48ª Mostra de São Paulo] 78 Dias
Este texto faz parte da cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro. Publicado originalmente na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui.
78 Dias (78 Dana, Sérvia, 2024, Ficção, cor, 82 min)
Direção: Emilija Gašić
Sinopse: Pouco antes de seu pai ser recrutado durante o bombardeio da Otan na Sérvia em 1999, Sonja e Dragana, duas irmãs adolescentes, começam um diário em vídeo Hi8, gravando por cima de coisas mais antigas que aparecem periodicamente entre as cenas recém-filmadas. Os dias passam com elas registrando a natureza pacífica ao redor, o céu trêmulo à noite durante os ataques aéreos e as provocações que fazem com a irmã de sete anos, Tijana. As coisas mudam quando um garoto misterioso e sua irmã mais nova e tímida chegam de Belgrado e vão morar na casa do vizinho. Logo, novas amizades, os primeiros beijos e as decepções se sobrepõem ao medo das bombas. Exibido no Festival de Roterdã e no IndieLisboa.
Comentário: A linguagem do filme, como fita caseira, é bem interessante. Vemos a passagem do tempo nos fragmentos de registros feitos pelas adolescentes, que filmam as brincadeiras, as brigas e a rotina da casa. Até que os bombardeios começam, o pai é recrutado e as quatro mulheres ficam sozinhas na casa. Ser adolescente em 1999: elas assistem novela, têm poster do Garbage na parede, falam sobre as profissões que almejam e se apaixonam. A irmãzinha brinca de boneca e se ressente por, na sua visão, não ser bonita como as mais velhas. Seria tudo um filme de crescimento bastante comum, não fossem as sirenes de alerta, os aviões que sobrevoam, as palavras de ordem contra a OTAN, as nuvens resultantes de bombas visíveis da janela. Certa hora Dragana grita com a mãe, que não a deixa sair em um passeio de bicicleta em meio ao alerta de bomba “eu não posso ter um dia normal?”. E não pode. Porque isso é crescer em meio à guerra. Um filme conciso, simples e impactante.