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[48ª Mostra de São Paulo] Favoriten

Este texto faz parte da cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro. Publicado originalmente na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui.

Favoriten (Áustria, 2024, Documentário, cor, 118 min)

Direção: Ruth Beckermann

Sinopse: A diretora Ruth Beckermann passou três anos acompanhando uma turma de estudantes do ensino fundamental, com idades entre sete e dez anos, e sua dedicada professora, em uma grande escola primária no bairro de Favoriten —local multiétnico e tradicionalmente operário de Viena. Mais de 60% dos alunos das instituições primárias vienenses não têm o alemão como primeira língua e o sistema enfrenta uma grave escassez de docentes. Conhecemos as crianças como indivíduos à medida que aprendem, crescem e se desenvolvem durante o período que antecede o último ano da escola primária, momento que terá um impacto decisivo no futuro de cada uma delas. O documentário faz desses jovens coautores do filme, ao entregar câmeras e incorporar as imagens filmadas por eles. Enquanto vivenciamos aventuras, lutas, derrotas e vitórias diárias da infância, acompanhamos um microcosmo da sociedade contemporânea da Europa Ocidental: uma sociedade que luta com questões de identidade e migração. Exibido no Festival de Berlim, onde recebeu o Peace Film Prize, e nos festivais CPH:DOX e Visions du Réel.

Comentário: Imagino que depois de um documentário sobre a ascensão da extrema direita na Áustria, Beckermann pensou que precisava de um refresco e talvez se voltou para o futuro da nação, as crianças, em busca de esperança. O documentário explica que foi filmado ao longo de 3 anos, entre o que seria o nosso 3º e o 5º ano, na mesma turma de ensino fundamental, na maior escola de Viena. Hoje 60% das crianças chegam sem saber falar alemão. Elas vivem em um mundo extremamente complexo. Cada uma delas fala pelo menos uns três idiomas e discutem até mesmo questões sobre direitos humanos e geopolítica (uma menina chega a citar a Otan!). Seus pais vêm de países destruídos por guerras e elas convivem com realidades partidas e famílias fragmentadas. Chama atenção a aula sobre profissões, em que cada uma conta o que seus pais fazem e a todas as mães, que tinham profissões diversas nos países de origem, passaram a ser faxineiras ou donas de casa. Essas crianças são os elos de seus pais com a adaptação no país onde residem. O trabalho de imersão, por um tempo tão prolongado, é não só muito bonito, como eficiente para conhecermos mais as particularidades de cada uma, que refletem contextos maiores.

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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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