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[48ª Mostra de São Paulo] Mambembe

Este texto faz parte da cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro. Publicado originalmente na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui.

Mambembe (Brasil, 2024, Documentário, cor/p&b, 98 min)

Direção: Fabio Meira

Sinpse: Um filme sobre a tentativa de se fazer um filme. O diretor retoma uma filmagem de 2010 sobre um topógrafo errante e seu encontro com três mulheres de um circo mambembe. Por meio da história desses personagens, o longa lida com o acaso e, ao mesmo tempo, reflete a respeito da construção artística. 

Comentário: Mais do que um filme, Mambembe é um processo descortinado. Fábio Meira fez o tratamento da narrativa em 2009, viajou para campo em busca de suas personagens em locações alguns anos depois, quando cenas foram filmadas. Índia Morena interpreta uma dona de circo, artista veterana como ela mesma. Madona interpreta uma artista trans, como ela mesma. Já Jéssica, a jovem que dança com bambolê, é interpretada por uma atriz profissional, porque a verdadeira Jéssica não foi liberada do circo em que trabalhava em Belém. O filme apresenta as ideias da história enquanto mostra como essas personagens tomam corpo nas atrizes não-profissionais, mesclando suas próprias vidas. Rui, o topógrafo viajante que se envolve com as três, é interpretado por um ator profissional. É claro que não se faz o filme que era 15 anos atrás. Ninguém mais é sequer a mesma pessoa. O que a mescla de bastidores deixa claro é que a narrativa ficcional proposta, provavelmente vida de idealizações externas, nem sempre casa com as vivências dessas mulheres. Mas o construir conjunto se torna interessante. Nesse sentido, talvez o ponto fraco do filme seja justamente o uso das atrizes não-profissionais, que em sua expansividade improvisadora de um lado e timidez de outro, afetam um pouco da verossimilhança do aspecto ficcional. O ponto mais forte é o caráter documental, o registro da passagem do tempo pra essas mulheres, numa fantasia que reflete suas artes. 

P.S.  Meu desconforto com o filme foi, no final das contas, a plateia, que diversas vezes parecia rir delas, como se elas fossem um objeto de estranhamento.

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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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