
[49ª Mostra de São Paulo] Dracula
Este texto faz parte da cobertura da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 16 e 30 de outubro.
Uma enorme piada. A partir daí, cada um faça o que quiser com isso. Radu Jude resolve criar a sua adaptação da história de Drácula. O romeno Radu Jude. Na romena Transilvânia. Mais apropriado que isso impossível. Radu Jude que fala sobre fascismo e fala sobre precarização. O que pode sair daí? Não um filme comum sobre Drácula, especialmente vindo de alguém que homenageou Uwe Boll (será?) alguns filmes atrás. Inclusive o elenco de seus filmes anteriores está em peso: é o Radu-Jude-Verso
Um personagem encarna uma versão metalinguística do próprio diretor e, diante da câmera, elabora as opções possíveis para a película. A brincadeira é que se um cineasta que faz filme de festival (entenda como quiser) de quase três horas sobre trabalhadora precarizada do audiovisual com planos longuíssimos vai fazer filme de vampiro, agora é a hora de fazer seu filme comercial. Olhando para a câmera ele informa: vai ter sexo, vai ter nudez, romance, vai ter sangue, violência, vai ter perseguição de carro. E aí tu ficas “ok, né?”. Não é que o cinema dele costume ser realizado com grandes recursos também.
E tudo começa com uma encenação barata com atores decadentes de uma história de Drácula, que culmina com uma perseguição nas ruas. As filmagens sequer interditam os locais públicos por onde passam os atores e os olhares curiosos dos turista pelas vizinhanças de Vlad, o empalador, se tornam parte da graça.
Mas aí o Diretor quer fazer outras coisas. Propõe misturar outras histórias de vampiros. E vai na lógica de que sexo vende, mas sexo é basicamente pênis, puro falocentrismo. O filme de novo se propõe a falar de tudo: política, relações trabalhistas, ascensão da extrema direita, Trump, Musk, mas tudo isso apenas pincelado em meio a vampiros de épocas diferentes e outras situações.
Quadros vão se sucedendo com as explicações do Diretor, que, por falta de recursos, cria seus filmes com a Inteligência Artificial Judex 0.0. Sangue jorra. Pirocas voam. Sexo esdrúxulo. AI slop das mais bizarras possíveis preenchem a tela. Referências a todos os filmes clássicos de vampiros.
Essa é piada, entendeu? Cinema comercial. Algumas coisas são realmente muito engraçadas. Outras me perderam completamente. O fato é que o filme tem quase 3 horas de duração. A essa altura a piada já foi esticada muito além do seu limite. Já entendi. Já entendemos. Pode acabar. Corta?


Essa cobertura foi possível graças ao nosso financiamento coletivo. Agradecemos em especial a: Carlos Henrique Penteado, Gizelle Barros Costa Iida, Helga Dornelas, João Bosco Soares, Janice Eleotéreo, José Gabriel Faria Braga de Carvalho, José Ivan dos Santos Filho, Lorena Dourado Oliveira, Lucas Ferraroni, Mariana Silveira, Patrícia de Souza Borges, Pedro Dal Bó, Vinicius Mendes da Cunha, Waldemar Dalenogare Neto, Zelia Camila de O. Saldanha
