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A maternidade no cinema em 7 filmes do Telecine

As representações da maternidade no cinema muitas vezes são limitadas à romantização ou à demonização, resultando em narrativas que reforçam estereótipos e pouco – ou nada – contribuem para uma real aproximação e para reflexões aprofundadas sobre essa experiência tão complexa. Tal complexidade está, inclusive, nas diferentes perspectivas e nuances dentro do tema: ser mãe ou estar em relação com uma mãe (sendo filha(o), neta(o), pai etc), ser mulher que não planeja ter filhos e sofre as pressões sociais dessa escolha, ser julgada em relação ao mito do instinto maternal e suas implicações ou ainda exercer algum aspecto da maternidade ou a função materna sem possuir o laço sanguíneo, entre outras possibilidades. 

Há muitas vivências, dinâmicas, aspectos culturais, lacunas, imaginários e subjetividades. Portanto, um vasto campo de exploração para o cinema, que pode (e deve) construir cada vez mais histórias que reflitam realidades plurais. Nesta lista, apresentamos sete filmes com diferentes abordagens sobre maternidade – algumas duras, outras mais leves ou simbólicas – disponíveis no serviço de streaming Telecine. Siga seu mood e dê o play!

Sonata de Outono (1978)

O vínculo entre mãe e filha está atrelado à construção de identidade, perpassando conflitos e ambiguidades muito próprios do processo de amadurecimento e de tornar-se mulher. Em Sonata de Outono, de Ingmar Bergman, há atuações fortes e belíssimas de Ingrid Bergman e Liv Ullman como mãe e filha, respectivamente. A personagem Eva recebe a visita da mãe após sete anos de distância. Charlotte, a mãe, é uma pianista de sucesso, e foi um tanto ausente na criação das filhas por causa do trabalho. Na casa também está a filha mais nova, Helena (Lena Nyman), que tem uma doença degenerativa. A partir desse (re)encontro temos a dimensão de vários problemas ditos e não ditos que atravessam a vivência dessas mulheres sem que haja a vilanização de uma ou de outra. O filme também revela outras nuances, por exemplo, a forma como esses laços familiares conturbados refletem em Viktor, marido de Eva. Destaque para um longo diálogo dramático, em que lembranças, dores e tensões são expostas, numa tentativa de colocar em pratos limpos o que tanto angustia cada uma delas. 

Minha Mãe é Uma Sereia (1990)

Minha Mãe é Uma Sereia é um clássico da Sessão da Tarde com três atrizes ícones geracionais dos anos 90: Cher, Winona Ryder e Christina Ricci; a última, ainda criança, em seu primeiro filme. Dirigido por Richard Benjamin, o filme tem roteiro de June Roberts baseado no livro Mermaids, de 1986, escrito por Patty Dann. A trama se passa nos anos 1960 e nos apresenta Rachel Flax (Cher), uma mãe solo, independente, paqueradora e descolada, que vive com suas filhas Kate (Christina Ricci), uma criança de 8 anos com potencial olímpico para a natação, e Charlotte (Winona Ryder), uma adolescente de 15, que tenta se diferenciar da mãe e, assim, se diz religiosa e com desejos de ser freira. Charlotte sente falta de uma figura paterna e carrega toda a confusão de sentimentos da idade. É através dela, como narradora da história, que acompanhamos essa família de mulheres, com foco nos conflitos entre mãe e filha adolescente. Ambas são falhas e muito parecidas, mas há muitos ruídos de comunicação, no entanto, a vida delas é retratada de maneira muito leve e divertida, pois há uma bonita conexão ali, apesar dos mal-entendidos. Há alguns momentos de maior tensão que logo se resolvem, embora não sejam simplórios. Chama a atenção como Kate é uma mãe completamente fora dos padrões e que desempenha muito bem sua função, tendo tropeços e acertos como qualquer outra, e que ainda assim não abre mão do que lhe faz bem como mulher. E detalhe: cenas de Cher, lindíssima, toda fantasiada de sereia before it was cool. 

Boyhood: Da Infância à Juventude (2014)

Rodado durante doze anos com o mesmo elenco, Boyhood: Da Infância à Juventude, do diretor Richard Linklater, acompanha a vida de um menino dos 5 aos 18 anos de idade. Mas nessa história sobre passagem do tempo, amadurecimento, família e ciclos da vida há uma mulher tão importante quanto o protagonista: sua mãe. Patricia Arquette é Olívia (a atriz levou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por esse papel), uma mãe divorciada que cria seus filhos Mason (Ellar Coltrane) e Samantha (Lorelei Linklater) enfrentando muitas questões, entre problemas financeiros e relacionamentos bastante problemáticos, até a síndrome do ninho vazio. 

Que Horas Ela Volta? (2015)

Escrito e dirigido por Anna Muylaert (ouça nosso podcast sobre a diretora aqui), Que Horas Ela Volta? é um dos grandes filmes do cinema brasileiro contemporâneo, que ganhou muitos prêmios em festivais nacionais e internacionais. A trama apresenta duas mães diferentes entre si, mas que convivem sob o mesmo teto, pois possuem uma longa relação de patroa e empregada doméstica. A partir dessa dinâmica, de muitas contradições, o filme retrata questões de classe e alguns elementos da maternidade, especialmente no que tange às desigualdades sociais e expectativas. Regina Casé interpreta Val, mulher que deixa sua filha, Jéssica (Camila Márdila), no interior de Pernambuco com parentes e passa treze anos como babá de Fabinho (Michel Joelsas), um menino de classe média alta em São Paulo, filho de Bárbara (Karine Teles). Val ajuda financeiramente sua filha, mas sente a culpa por estar longe. Às vésperas do vestibular de Fabinho, ela recebe um telefonema de Jéssica que quer ir para São Paulo, também por causa do vestibular. Os patrões de Val apoiam a vinda de sua filha, mas quando ela chega, a convivência se torna difícil, pois Jéssica, muito autêntica e inteligente, aos poucos escancara os problemas desse ambiente e desestabiliza a estrutura de poder em que sua mãe é colocada como inferior. Entre afetos, reencontros e distâncias, mudanças se impõem. Detalhe: O filme ganhou o título de The Second Mother fora do Brasil. 

As Boas Maneiras (2017)

De Juliana Rojas e Marco Dutra (ouça nosso podcast sobre a diretora aqui e sobre o filme aqui), As Boas Maneiras traz marcas autorais de seus realizadores – especialmente a mistura de gêneros com bases no horror e na fantasia – em perfeita sintonia com as contribuições magníficas da equipe técnica e do elenco, que tem Marjorie Estiano, Isabél Zuaa e Miguel Lobo nos papéis principais. O longa-metragem circulou por vários festivais, recebeu vários prêmios importantes e tem cenas memoráveis que já estão entre as melhores do nosso cinema. A história acompanha Clara (Zuaa), uma enfermeira da periferia de São Paulo que é contratada por Ana (Estiano) como babá do filho que espera. Ana é uma mulher rica do interior, mas está sendo rejeitada pela família e se comporta de maneira estranha em noites de lua cheia. Nessa convivência entre as duas, questões de classe e raça são perceptíveis, mas elas acabam tendo também uma relação de afeto e cumplicidade, pois uma se identifica com a outra em aspectos que o filme vai revelando em meio à atmosfera de mistério e suspense que envolve a gravidez de Ana. No que diz respeito ao tema da maternidade, é muito interessante a ruptura com estereótipos pela personagem grávida, que subverte as boas maneiras esperadas, e a mudança da personagem que se torna mãe adotiva pelas consequências dos acontecimentos. Além disso, a potência simbólica para horrores e tensões que podem estar presentes na experiência materna é bem explorada, ao mesmo tempo que diverte, é terno e criativo, evocando o folclore e a cultura popular brasileira.

Como Nossos Pais (2017)

Como Nossos Pais é um filme de Laís Bodanzky (ouça nosso podcast sobre ela aqui) com Maria Ribeiro como a protagonista Rosa, uma mulher de 30 e tantos anos que se encontra numa fase da vida marcada por conflitos tipicamente contemporâneos. Rosa se desdobra para dar conta de tudo e se sente pressionada a ser perfeita em todas as suas obrigações. Ela lida com duas filhas pré-adolescentes, um trabalho frustrante, o marido por vezes ausente ou desligado, a difícil relação com a mãe e um affair extraconjugal. Num almoço de domingo, ela tem uma notícia da mãe que revira sua vida. Abordando questões existenciais e geracionais, o filme mistura relações familiares e feminismo, com Rosa questionando sua posição nas diversas esferas de experiência, especialmente a de mãe e a de filha. No filme, rever com cuidado essa ligação entre mulheres é se fortalecer, se conhecer mais e seguir em frente na luta, aprendendo e evoluindo.

Minha Filha (2018)

Dirigido pela italiana Laura Bispuri (que também co-escreveu o roteiro ao lado de Francesca Manieri, baseado no livro de memórias da escritora A. M. Homes) Minha Filha foi indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2018 e conta com Alba Rohrwacher, Valeria Golino e a pequena Sara Casu no elenco. Com muita sensibilidade e de maneira intimista, a narrativa se passa na região da Sardenha e traz a garota Vittoria como filha adotiva de Tina. Ao longo da vida, ela acaba se distanciando de sua mãe de criação e se aproxima da mãe biológica, Angélica. A relação entre as três se torna complicada, envolvendo disputas afetivas, descobertas, autoconhecimento, emoções densas e inquietações. 

Lembrando que esses e outros filmes sobre maternidade estão disponíveis no catálogo do Telecine para assistir direto pela internet.

Esse conteúdo foi produzido pelo Feito por Elas, de maneira patrocinada, em parceria com o Telecine.  
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Projeto para discutir, criticar e divulgar os trabalhos de mulheres no cinema.

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